Mulheres fumadoras têm maior propensão para desenvolverem obstrução das vias respiratórias
O risco de obstrução das vias respiratórias é maior em mulheres fumadoras do que em homens fumadores.
A característica principal da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) – terceira causa de morte mais comum a nível mundial – é a obstrução irreversível das vias respiratórias e o seu maior fator de risco é ser fumador. Atendendo ao facto de que há cada vez mais mulheres fumadoras, uma equipa de investigadores do Imperial College London e da St George’s University of London quis saber se a probabilidade de ter as vias respiratórias obstruídas é igual entre homens e mulheres que fumam – por outras palavras, se o efeito do fumo do tabaco nos pulmões é igual entre homens e mulheres. Para examinarem esta questão, os investigadores analisaram dados de quase 250 000 pessoas que participaram no UK Biobank e tinham medições de boa qualidade da sua função pulmonar e informação sobre os hábitos tabágicos.
Os resultados deste estudo, publicados na revista American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, mostram que para o mesmo número de cigarros fumados por dia e anos de fumador, as mulheres fumadoras têm maior probabilidade de ter as vias respiratórias obstruídas do que os homens que fumam. Por exemplo, o risco de obstrução das vias respiratórias associado a fumar 10 cigarros por dia e por comparação com não fumadores, é quase quatro vezes superior em mulheres, mas não chega a ser três vezes superior em homens.
Uma explicação credível para estas diferenças entre homens e mulheres ainda não existe, mas pensa-se que podem estar relacionadas com aspetos anatómicos (os pulmões das mulheres são, em média, mais pequenos que os dos homens para a mesma altura e idade), hormonais (diferentes níveis de hormonas sexuais) ou até genéticos (associados ao cromossoma X – as mulheres têm dois em cada célula, enquanto os homens só têm um).
No que diz respeito à idade de início, o risco de obstrução das vias respiratórias não parece ser diferente entre homens e mulheres que começaram a fumar antes dos 18 anos de idade. Isto é, começar a fumar durante a infância ou a adolescência é tão mau para os pulmões dos homens como para os das mulheres.
Os investigadores observaram também que deixar de fumar reduz o risco de obstrução das vias respiratórias quer em homens quer em mulheres de modo semelhante e quase imediato, por comparação com pessoas que não deixam de fumar.
Este é o maior e mais abrangente estudo que compara o efeito que fumar tem nos pulmões de homens e mulheres. Os seus resultados suportam a criação de campanhas antitabaco que visam especificamente as mulheres, uma vez que os seus pulmões são mais suscetíveis aos efeitos do tabagismo, e reforçam a necessidade de prevenir que crianças e jovens fumem.
Este trabalho de investigação foi possível graças ao financiamento da British Lung Foundation. Esta é uma entidade não governamental e sem fins lucrativos, cujo objetivo é aumentar o conhecimento sobre doenças respiratórias, como a DPOC, e apoiar as pessoas que delas sofrem.
O UK Biobank recolheu, e continua a recolher, dados e amostras de mais de 500 000 adultos residentes no Reino Unido. O objetivo desta enorme estrutura é melhorar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de uma variedade de doenças graves, incluindo o cancro, a diabetes e a DPOC.
Referência do artigo científico: André F.S. Amaral, David P. Strachan, Peter G.J. Burney, Deborah L. Jarvis. Female smokers are at greater risk of airflow obstruction than male smokers: UK Biobank. Am J Resp Crit Care Med 2017. http://dx.doi.org/10.1164/rccm.201608-1545OC
André Amaral
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André Amaral
Epidemiologista na secção de Saúde Populacional e Doença Ocupacional do Instituto Nacional do Coração e do Pulmão (National Heart and Lung Institute), no Imperial College London (Reino Unido).
André é licenciado em biologia e doutorado em ecotoxicologia pela Universidade dos Açores. Motivado pela curiosidade e desejo de aplicar os seus conhecimentos de investigação básica num contexto de saúde pública, fez um mestrado em epidemiologia e métodos quantitativos na Universidade Autónoma de Madrid (Espanha). Em Madrid, trabalhou no Centro Nacional de Investigações Oncológicas, onde estudou o papel de fatores ambientais, genéticos e epigenéticos em dois tipos de cancro (bexiga e pâncreas). Atualmente, o foco da sua investigação está em alergias, asma e doença pulmonar obstrutiva crónica. Contribui para o ensino em epidemiologia e saúde global também no Imperial College London e é editor associado de duas revistas científicas na área da saúde (Frontiers in Public Health – Epidemiology; BMC Pulmonary Medicine).
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