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Investigadores portugueses descobrem nova espécie de planta fóssil

05 Jun 2017 - 13h20 - 5.201 caracteres

No âmbito do projeto CretaCarbo, a equipa coordenada por Mário Mendes, investigador do Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Algarve, descobriu recentemente uma nova espécie de esporo atribuível a fetos da família Anemiaceae. A nova espécie, designada com o nome científico Costatoperforosporites friisiae, até hoje, apenas foi identificada nas paleofloras portuguesas.

 

A descrição desta nova espécie, no âmbito de estudo que pretende compreender as condições paleoambientais que presidiram à radiação e desenvolvimento das angiospérmicas (plantas com flor),  constitui, sem dúvida, um excelente contributo para a Ciência e para o avanço da Paleobotânica no nosso País, já que esta área se encontra ainda muito pouco explorada.

Por um lado, este esporo vem acrescentar novo conhecimento à diversidade das palinofloras do Cretácico da Bacia Lusitaniana. Por outro, a associação de vegetais fósseis até agora estudada na jazida fossilífera de Catefica, no concelho de Torres Vedras, sugere que no Cretácico Inferior, o interior Sul da Bacia Lusitaniana encontrava-se coberto por vegetação relativamente aberta, que prosperou em condições quentes e sazonalmente secas.

As angiospérmicas desenvolveram-se a partir do Cretácico Inferior, há cerca de 135 milhões de anos e atualmente dominam a vegetação terrestre. Em Portugal, o Cretácico encontra-se bem representado e tem características que permitem acompanhar a evolução florística desde o Cretácico Inferior, com predomínio dos fetos, coníferas, ginkgos, cycas, Bennettitales e outros grupos de plantas já extintos, até o Cretácico Superior onde as angiospérmicas colonizaram quase todos os ecossistemas terrestres. Contudo, apesar dos estudos desenvolvidos, muitos aspetos relacionados com a evolução angiospérmicas continuam ainda por esclarecer.

As plantas são organismos extremamente sensíveis às alterações climáticas em escala continental, constituindo testemunho de modificações paleoambientais que afetaram o ambiente terrestre. 

Segundo Mário Mendes, “o estudo das plantas fósseis tem grande interesse paleoecológico, pois permite tirar ilações acerca da paleoclimatologia local e regional dessa época, designadamente no que se refere a anomalias de temperatura e de precipitação”. Através do projeto CretaCarbo deu-se início à realização de estudos com o objetivo de perceber as condições paleoambientais que presidiram à radiação e diversificação ecológica das angiospérmicas no Cretácico Inferior da Bacia Lusitaniana, bem como a evolução dos ecossistemas terrestres através do tempo.

Desta forma, as plantas fósseis são um marco central para a compreensão da organização e funcionamento das paleocomunidades. Através do estudo da flora fóssil pode compreender-se melhor a flora moderna. A paleobotânica e a palinologia podem contribuir para o desenvolvimento de competências fundamentais para a compreensão da dinâmica dos ambientes passados e atuais no que diz respeito às transformações paleoambientais decorrentes da sua génese. Assim, o estudo das plantas fósseis é uma mais-valia na medida em que contribui para a formação de cidadãos informados e conhecedores de fenómenos naturais, sendo capazes de refletir criticamente sobre a evolução da vegetação do nosso planeta. De referir ainda que a Paleobotânica é economicamente importante no estudo de restos de vegetais fósseis indispensáveis, por exemplo, para pesquisa de matérias-primas energéticas, tais como, o petróleo ou o carvão vegetal.

Os resultados desta investigação, que tem suscitado grande interesse por parte de inúmeros investigadores de outros países, como França, Japão, Suécia, Alemanha e Espanha, foram recentemente publicados numa revista científica de circulação internacional indexada no ISI Web of Science.

O Projeto CretaCarbo (PTDC/CTE-GIX, 113983/2009), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), teve ainda como parceiros a Universidade de Coimbra e a Universidade Nova de Lisboa.

 

Consultar artigos em:

http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00173134.2016.1269189

http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00173134.2017.1310292

 

Gabinete de Comunicação da Universidade do Algarve


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