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Prioridade aos feminismos - Gender Workshop

09 Jul 2017 - 16h33 - 3.519 caracteres

Do ponto de vista institucional e normativo, os ganhos em igualdade entre mulheres e homens são um facto da política contemporânea na Europa e um pouco por todo o mundo. Contudo, é necessário não perder de vista que as mudanças mais substantivas numa sociedade só ocorrem quando, ao nível discursivo, simbólico e dos comportamentos, elas transformam concretamente a qualidade da vida das mulheres e dos homens.

Porém, o descompasso entre as práticas, as leis e as proclamações de princípios é significativo e assustador. A violência dirigida e infligida sobre as identidades sexuais não conformes à da virilidade heteropatriarcal não parecem estar a ceder às políticas existentes de prevenção, proteção e segurança. Esta realidade deve fazer-nos refletir sobre as enormes resistências sexistas intersticiais que revelam o quanto falta conseguir para atingir a igualdade em respeito e dignidade, muito para além da consagrada pelos direitos e inclusão liberais.

Embora a violência sexista e patriarcal não seja nada de novo, ela pode assumir formas e discursos que, pela sua quantidade ou qualidade, são problemas novos que instigam à reflexão e à resistência. Assistimos, em vários países do mundo, a uma nova onda conservadora que reforça a ideia da necessidade de tutela sobre certas identidades sexuais. A agressividade misógina expressa, tanto no discurso como no exercício da política, tem vindo a aumentar e a naturalizar-se. De Trump, nos EUA, Temer, no Brasil, ao ainda presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, as afirmações discriminatórias sobre as mulheres não são episódicas. Estes são apenas três exemplos desta face do conservadorismo associado ao neoliberalismo financeiro. Outros acontecimentos são a obrigação do uso de maxi-saias nas escolas básicas e secundárias em Moçambique para prevenir o assédio e as gravidezes das adolescentes; ou as recorrentes tentativas de voltar atrás em termos legislativos sobre o direito ao próprio corpo, à sexualidade e à reprodução em Angola, Polónia, Espanha ou Brasil.

As ciências sociais têm aqui um amplo campo de pesquisa e de intervenção, a que o CES tem dado permanente atenção. Desde há seis anos, as oficinas Gender Workshop constituem espaços abertos de debate que exploram o potencial epistemológico das perspetivas feministas na compreensão da vida social e política e criam solidariedades entre lutas e agendas. Estas são abordadas a partir de diferentes contextos sociais, políticos e culturais, privilegiando-se o diálogo entre as mais variadas disciplinas e áreas de investigação. Com a Gender Workshop desejamos mobilizar vários olhares, com lugares de enunciação distintos que possam problematizar realidades diversas, e que forneçam energias emancipatórias capazes de nos mobilizarem em torno das transformações progressistas que desejamos.

 

Catarina Martins, Sílvia Roque e Teresa Cunha (Centro de Estudos Sociais - CES)


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Catarina Martins, Sílvia Roque e Teresa Cunha (Centro de Estudos Sociais - CES)

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