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Avaliar o impacto do Acordo de Paris nos estuários temperados

26 Jul 2017 - 16h06 - 3.249 caracteres

Quais os efeitos de uma subida de temperatura dentro dos valores propostos no Acordo de Paris, aumento máximo de 2ºC, nos estuários temperados atlânticos?

 

Um estudo in situ no estuário do Mondego, coordenado por investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), revela que, ao contrário do esperado, não se registam alterações significativas e o impacto é reduzido.

Ou seja, o estudo, publicado na Scientific Reports, do grupo Nature, indica que os ecossistemas estuarinos lidam bem com um aumento máximo de temperatura de dois graus Celsius, evidenciando que «o valor proposto no Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países, é um valor seguro para os sistemas biológicos dos estuários, zonas muito dinâmicas e com uma elevada importância ecológica e ambiental. Este estudo pode ser um contributo relevante para pressionar os decisores políticos a manterem o aumento máximo nos 2ºC», observa Daniel Crespo, investigador principal do projeto.

Para determinar os efeitos do aquecimento global nos estuários temperados, a equipa manipulou a temperatura no estuário do Mondego através da colocação de pequenas estufas em duas zonas intertidais (áreas que ficam emersas durante a maré baixa) com habitats distintos: um de areia nua e outro coberto por Zostera noltei, uma espécie de planta macrófita importante para estabilizar os sedimentos e evitar a erosão costeira.

De seguida, avaliou-se o comportamento da microfauna (fungos, bactérias, etc.) e da macrofauna (por exemplo, bivalves e crustáceos), bem como processos ecológicos importantes como a bioturbação (movimento de fluidos e partículas no sedimento), nos dois habitats manipulados.

As análises efetuadas no âmbito do estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), demonstram que «o efeito de uma moderada subida de temperatura, dentro dos valores indicados pelo Acordo de Paris, é aparentemente menos importante do que a heterogeneidade do sistema para um saudável funcionamento dos ecossistemas e para o estado das comunidades biológicas», afirma Daniel Crespo.

O investigador do Centro de Ecologia Funcional acrescenta que «este estudo vem reforçar a ideia de que os valores indicados pelo Acordo de Paris para o aquecimento médio global podem ser seguros para a manutenção do devido funcionamento ecológico dos sistemas estuarinos temperados como o estuário do Mondego. A metodologia aqui desenvolvida pode ser aplicada com sucesso em sistemas estuarinos de características e áreas geográficas diferentes».

O estudo envolveu 10 investigadores e teve a participação das universidades de Aveiro (UA) e Minho (UM).

 

Declarações do investigador Daniel Crespo: aqui

 

Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra)


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Cristina Pinto / Universidade de Coimbra

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