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A verdadeira cor dos anéis de Saturno

10 Set 2017 - 12h41 - 3.198 caracteres

À medida que a sonda Cassini se aproxima do fim da sua missão de exploração em Saturno, iniciada em 2004, os cientistas aproveitam para programar vôos mais arriscados que a fazem atravessar o espaço entre o topo da atmosfera do planeta e os seus anéis. Estas trajectórias permitem à Cassini obter imagens notáveis como a Figura 1. Trata-se da mais detalhada imagem a cores dos anéis e mostra uma fatia de 6900 quilómetros do anel B, o maior e mais conspícuo quando observado a partir da Terra (ver Figura 2). Os anéis mais estreitos no centro da imagem têm uma largura de aproximadamente 40 quilómetros, ao passo que as bandas de cor mais intensa à direita da imagem têm entre 300 e 500 quilómetros de largura.

A imagem - uma combinação de imagens individuais obtidas com filtros vermelho, verde e azul - mostra que a cor real dos anéis de Saturno é um creme suave. Paradoxalmente, os anéis são compostos essencialmente por partículas de gelo de água, cuja cor é branca quando reflete a luz solar. A cor visível na foto também não resulta de uma reflexão de luz proveniente da atmosfera superior do planeta. Algum material desconhecido, cuja natureza é motivo de aceso debate entre os cientistas, deverá cobrir parcialmente os blocos e conferir-lhes esta cor subtil. Espera-se que, antes de mergulhar em definitivo na atmosfera do rei dos Titãs, a sonda envie dados que permitam esclarecer este mistério. Também não se sabe ao certo porque é que alguns anéis são mais brilhantes do que outros mas factores como o brilho individual das partículas, as condições de iluminação, a existência de sombras, a quantidade total de partículas no anel e a sua densidade, têm certamente influência na sua aparência final.

O mergulho final da Cassini através da atmosfera de Saturno está programado para o próximo dia 15 de Setembro. Os cientistas decidiram terminar desta forma a missão para garantir que a sonda nunca colidiria com Encélado ou Titã, duas luas de Saturno com potencial para albergar formas de vida elementares. Apesar dos cuidados tidos na esterilização da sonda antes do lançamento e dos 20 anos passados no ambiente extremo do espaço interplanetário, é possível que alguns microorganismos provenientes da Terra resistam ainda na sonda podendo contaminar uma lua em caso de colisão.

 

 

Legendas das Figuras:

Figura 1 - A verdadeira cor de uma secção do anel B de Saturno. Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Figura 2 - Os anéis A, B e C de Saturno são as principais divisões visíveis a partir da Terra. Na realidade, cada um destes anéis é constituído por milhares de anéis mais estreitos. Crédito: NASA /JPL.

 

Luís Lopes


© 2017 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Luís Lopes

Luís Lopes é professor no Departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Astrónomo amador há mais de 30 anos, interessa-se pela ciência em geral e pela sua divulgação. Acompanha com especial atenção os desenvolvimentos nas áreas da Astronomia, Astrofísica e Física de Partículas. Gosta de estar com a família, de ler um bom livro, do sossego do campo e de passar noites a observar o céu.


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