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Já ouviu falar de economia circular?

27 Set 2017 - 14h59 - 5.094 caracteres

Está na ordem do dia.

A economia circular tem sido discutida em muitos fóruns e existe inclusivamente um plano de ação nacional que está em consulta pública até ao final deste mês. Esse plano começa assim: “Do ponto de vista ambiental, estamos a viver a crédito”…

Na economia circular, que se pretende implementar, o valor dos produtos, materiais e recursos é mantido na economia por tanto tempo quanto possível e a produção de resíduos é minimizada.

E quem conhecia muito bem esse princípio? R: Os nossos avós! Ainda se lembra como a geração dos nossos avós tentava recuperar tudo? Os sacos de plásticos eram lavados para serem utilizados de novo; os restos de refeição eram dados ao cão e ao gato; as couves iam para as galinhas. Os pedaços de pão eram tostados para fazer pão ralado para os croquetes. Os guardanapos (e as fraldas) eram de pano... Iam à modista para reformular os fatos, casacos, saias e vestidos. Os sapatos, os preciosos sapatos, eram estimados e, sempre que possível, arranjados com primor pelo sapateiro da rua.  

Muita coisa mudou. Para melhor e para pior. Mas não se pode negar que as gerações anteriores tinham competências enraizadas no aproveitamento material.

A cultura do descartável instalou-se nas últimas décadas. O novo substitui o velho com a maior das facilidades… e o velho pouca idade tem! Está em voga a denominada economia linear: Extraem-se recursos naturais para produzir produtos, que se usam e deitam fora.

Mas, já é notório que esse modelo não funciona. Como diz o economista (e filósofo) francês Serge Latouche “quem acredita que um crescimento infinito é possível num mundo finito, ou é louco ou é economista”. Ainda para mais, vivemos altamente dependentes do exterior – das matérias-primas consideradas essenciais, a Europa apenas dispõe de 9% sendo as restantes importadas. Os mercados são instáveis. Os preços voláteis. E há um descontrolo das questões ambientais como sejam a perda da biodiversidade e as alterações climáticas.

Quer-se uma transição para uma economia circular. Mas esta economia circular, a ser aplicada a sério, alteraria de forma profunda a nossa maneira de estar, de viver. 

Como consumidores, implicaria mudar as nossas escolhas: a forma como gerimos as nossas compras, a nossa alimentação, o nosso transporte, os materiais que já não precisamos. Essa gestão teria por base uma filosofia de vida que assentaria no bem global e duradouro ao invés do bem individual e de curto prazo. Efetivamente, mesmo agora, temos alguma margem para escolher o transporte com menor impacte ambiental, para reutilizarmos produtos, para usarmos racionalmente a água, para não adquirimos o que não precisamos…

A responsabilidade individual é importante mas a economia circular é bem mais do que isso. É uma aposta no mercado: uma aposta no design dos novos produtos para que consumam menos materiais e para que durem mais tempo; uma aposta na utilização dos produtos como serviço. Como diz o atual Ministro do Ambiente, o berbequim com uma utilização média estimada de 12 minutos é dos objetos mais inúteis. Há que usufruir dos materiais. Partilhar, reutilizar, prevenir.

Uma revolução ou não, a verdade é que muitas iniciativas têm sido avançadas. Exemplos positivos.

É o caso da Fairphone que produz telemóveis modulares permitindo uma mais fácil substituição de peças, e sua reparação, visando maior duração; A Booking Drive dispõe de uma plataforma de aluguer de automóveis individuais que possibilita aos proprietários rentabilizar o carro nas alturas em que não o usam e aos condutores o acesso prático a uma viatura mesmo que seja por um par de horas; A Fruta Feia criou um mercado alternativo para escoar as frutas e legumes “feias”, que não têm o calibre, cor e formato normalizado.

Muitas outras novidades surgirão. Existe financiamento para novos projetos. A Europa está focada e Portugal alinhado. Pode consultar (e comentar) o plano de ação nacional para a economia circular – Liderar a Transição - no portal da internet “Participa”.

Já agora, nesta nova economia é de salvar os sapateiros que no interior do país são já uma espécie em via de extinção

 

Ana Penha e Patrícia Corigo


© 2017 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Ana Penha e Patrícia Corigo

Desde pequena que a Ana Penha tem interesse pelas questões ambientais. Talvez esteja no sangue. Esta foi a principal razão pela qual enveredou pela Engenharia do Ambiente e, no âmbito do programa Erasmus, foi para a Irlanda do Norte estudar ciências ambientais. Isso foi há cerca de 20 anos atrás.

Mais recentemente, a Ana tirou um Mestrado em Economia e Política da Energia e do Ambiente, um executive MBA, e rumou para a Noruega e Rússia para participar no Master of Science in Energy Management. Aí deparou-se com contrastes gigantes na área da energia… e não só!

A Ana gosta de procurar a melhor forma de partilha de conhecimento com o público. Tem várias publicações e foi finalista no Famelab Portugal 2013, um concurso de talentos em comunicação de ciência. Em 2015 integrou um programa intensivo, nesta área, no criativo Banff Centre, no Canadá. As temáticas de predileção são as ciências naturais, o ambiente e a energia. Há um novo tópico que a tem despertado a atenção – a relação da ciência com a arte.


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