Nobel da Química para a visualização de biomoléculas
Devemos a primeira visualização de células vivas ao holandês Antonie van Leeuwenhoek que, no século XVII, usando um microscópio recém inventado abriu de espanto uma nova janela para o invisível. Ao longo dos séculos seguintes os microscópios ópticos foram sendo melhorados, permitindo ver células cada vez mais pequenas. Mas há limitações físicas que impõem um limite inferior àquilo que com o microscópio óptico se consegue ver.
Para ver as estruturas celulares que compõem as células, ou para ver vírus, foi necessário a invenção e desenvolvimento do microscópio electrónico. Foi inventado em 1931 pelo físico alemão Ernst Ruska e com ele foi possível ver estruturas internas das células como nunca dantes tinha sido possível. Em vez de luz, o microscópio electrónico usa um feixe de electrões.
Mas ver o mais pequeno com o microscópio electrónico tem um senão. Se com o microscópio óptico é possível ver células vivas num ambiente aquático, o microscópio electrónico exige que aquilo que se quer ver esteja morto, fixo, no vácuo, sem água líquida. Dadas estas condições para a visualização surgiu sempre a questão se aquilo que se conseguia ver estaria na mesma forma nas células vivas em que a água predomina.
Na década de 90 do século passado, três cientistas desenvolveram técnicas de microscopia para ultrapassar aquelas limitações e permitiram a visualização das moléculas da vida em ambiente aquático. Foi um avanço magnífico para a compreensão de como a estrutura molecular das biomoléculas, como as proteínas, influencia a sua função no interior das células. Foi possível ver até a uma resolução atómica e obter pela justaposição de várias “fotografias” animações a três dimensões de como as proteínas, por exemplo, se “mexem”.
Como reconhecimento por estes avanços o comité Nobel atribuiu O Prémio Nobel da Química 2017 aos cientistas Jacques Dubochet, Joachim Frank e Richard Henderson pelo desenvolvimento desse novo método de imagem, designado por criomicroscopia electrónica, e que permite a determinação em alta resolução da estrutura de biomoléculas. Esta tecnologia leva a bioquímica “para uma nova era”, considerou o comité do Nobel.
António Piedade
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António Piedade
António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.
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