Semana Internacional do Acesso Aberto
Por: Maria de Jesus Perry
A Ciência Aberta é uma nova forma de produzir e partilhar o conhecimento científico entre a comunidade científica e a sociedade em geral, possibilitando ampliar o reconhecimento e o impacto social e económico da ciência.
Na passada semana de 23 a 29 de Outubro tiveram lugar um conjunto de actividades e iniciativas que têm por objectivo disseminar o Acesso Aberto ao Conhecimento. Estas actividades enquadram-se numa iniciativa internacional (Open Access Week) e a mensagem deixada pela Secretária de Estado da Ciência e do Ensino Superior, Fernanda Rolo, sumariza a importância deste Acesso Aberto: “A Ciência Aberta chegou e instalou-se. Deve ser um catalisador, no sentido da contribuição da ciência/do conhecimento, para o desenvolvimento sustentável e para um mundo mais justo e com maior bem-estar. Existe hoje a noção de que a ciência, quanto mais aberta e partilhada for, melhor permitirá identificar e resolver os problemas globais e locais, aproximando quem produz conhecimento da sociedade através de processos colaborativos e participativos de investigação que permitam a democratização e a apropriação do conhecimento no sentido da construção e implementação de novas práticas e políticas.”
Várias comunidades académicas e científicas elaboraram um programa semanal, no qual se procurou sensibilizar a comunidade produtora de conhecimento para as várias temáticas pertinentes que importa conhecer, discutir e praticar: ciência aberta, dados abertos, políticas de acesso, financiamento e editores, o que já se faz em Portugal, etc…
Não por acaso, decorreu também o 1º Encontro Nacional de Ciência Cidadã (Citizen Science - http://www.ciencia-aberta.pt/ciencia-cidada), que se afirma como um dos princípios da Ciência Aberta. Neste evento promovido pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior a 26 de Outubro em Lisboa (Teatro Thalia), o primeiro nome que se falou foi o do laureado Stephen Hawking, que viu a sua tese de doutoramento, escrita em 1966 (enquanto estudante da Universidade de Cambridge) disponibilizada de forma gratuita, em plena Semana Internacional de Acesso Aberto-2017. Diz o próprio que: “Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, deve ter acesso livre, sem entraves, não só para a minha investigação, mas também para a investigação de todas as grandes e questionadoras mentes no espectro da compreensão humana.”
Esta visão tem sido promovida e desenvolvida também no plano internacional, nomeadamente no âmbito da Comissão Europeia. Na reunião da Semana de Inovação do G7, realizada a 28 de Setembro de 2017, produziu-se um conjunto de directrizes políticas e planos de acção concretos para apoiar a comunidade científica numa vertente de benefícios para a sociedade, e adicionou-se uma nova prioridade – Ciência Aberta.
A Ciência Cidadã é entendida como um dos pilares decisivos para a concretização da Ciência Aberta, pois reconhece-se que a confiança, a transparência e a relevância da ciência aumentam quando esta é praticada em relação com a sociedade e, sobretudo, pela capacidade de estimular o envolvimento como forma de aproximar comunidades, criando ambientes propícios à inovação social, científica, económica e cultural.
São muitos os desafios colocados pela Ciência Cidadã, mas são fundamentais para a renovação formativa e metodológica no plano do ensino e da investigação, pois são vectores de introdução de novos métodos e novas aprendizagens com base num modelo de colaboração, co-criação e de translacção de conhecimento multidirecional.
Começam assim a adquirir especial relevo as práticas e projectos de Ciência Cidadã, nos quais os cidadãos que não trabalham de forma formal na ciência participam e contribuem em projectos científicos.
Em Portugal, existem várias iniciativas de participação pública na ciência, numa lógica de ciência cidadã e de ciência participada, envolvendo os cidadãos em todas as fases da atividade científica.
Com um público-alvo abrangente, proveniente do sistema científico e tecnológico, ou da sociedade em geral, ou mesmo decisores governamentais, autarquias, agências de financiamento, o Teatro Thalia foi um palco de Ciência Cidadã, onde se partilharam experiências fantásticas do que já acontece em Portugal. E que funcionam como fonte de inspiração para os muitos mais projectos que Portugal precisa. Saibamos todos nós, produtores do conhecimento e cidadãos, viver-bem nesta dinâmica!
Maria Perry
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Maria de Jesus Perry
Maria de Jesus de Almeida Rainha Perry da Câmara Saldanha Rocha é professora e investigadora na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, no Departamento de Química Farmacêutica e Terapêutica. Doutorada nesta área científica, tem dedicado o seu tempo de investigação ao desenvolvimento de fármacos anti-tumorais, nomeadamente para o melanoma e glioblastoma. Há um ano iniciou um novo projecto: fazer o Mestrado de Comunicação de Ciência da FCSH, UNL. Esta experiência trouxe novos desafios, entre eles o gosto pela comunicação em ambiente não lectivo e para diferentes públicos. Temáticas como a toxicologia, ambiente, biodiversidade, nutrição, preservação de património, etc…são sempre apetecíveis para abordar em conversa escrita. É neste universo que dá agora os primeiros passos, procurando contribuir para a comunicação de ciência em contexto não formal.
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