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Moluscos: modelos da biodiversidade?

03 Fev 2012 - 12h55 - 3.165 caracteres

Adaptação, 1.4 milhões de espécies, e moluscos marinhos: qual o denominador comum a todos estes elementos? A resposta a esta questão passa pela investigação que está a ser desenvolvida actualmente por Rui Faria (na foto), no Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-UP, cibio.up.pt). No CIBIO, usam-se moluscos para desvendar os processos que podem estar na origem da formação de novas espécies.

A diversidade de vida (biodiversidade) é um dos aspectos mais impressionantes do nosso planeta. Estão já descritas cerca de 1.4 milhões de espécies, estimando-se que existam cerca de 8.7 milhões! Se determinar estes números exactos é difícil, quão mais complicado será perceber como estas espécies apareceram? O trabalho da equipa de Rui Faria pode ajudar a esclarecer esta questão.

Apostado em compreender “quais são os ingredientes necessários para criar biodiversidade”, este investigador tem vindo a estudar uma espécie de pequenos moluscos chamados Littorina fabalis (ver foto ao lado) que habitam ao longo da costa Portuguesa. Estes animais têm conchas de cores bem diferentes e aquilo que se verifica é que indivíduos de cores específicas escolhem algas de determinadas cores para viver – cada uma destas populações designa-se por ecótipo.

Mas como o fazem? Para perceber os motivos que estão na base das preferências das litorinas, Rui Faria e a sua equipa estudam o seu comportamento. Animais em início de desenvolvimento são introduzidos em tanques especiais no laboratório juntamente com diferentes algas e as suas escolhas de habitat são avaliadas. Isto deve permitir averiguar se estes ecótipos são induzidos durante o desenvolvimento por factores ambientais ou se são determinados geneticamente.

E qual é o impacto prático desta investigação? Ela demonstra de que forma a adaptação ao ambiente pode contribuir para a formação de novas espécies. Tal como Rui Faria salienta, a verdade é que nos habituamos a associar biodiversidade a perda, a extinção, porém “não se pode olhar apenas para o final da história: tem que se perceber como essa biodiversidade é gerada”. Estes dados permitem-nos compreender melhor a história evolutiva das espécies. E mais, com recurso a simulações em computador, é possível prever o que lhes poderá vir a acontecer em função, por exemplo, de alterações climáticas e da acção do homem.

Quem poderia imaginar que pequenas e viscosas criaturas que vivem dentro de uma concha tivessem tanto a “dizer” sobre evolução?

Pense nisso da próxima vez que for à praia!

 

Maria João Fonseca


© 2012 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Maria João Fonseca

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