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“Migrações – das células aos cientistas”

23 Fev 2012 - 16h51 - 2.799 caracteres

A Etologia é a área da ciência que estuda o comportamento dos seres vivos, sendo uma das disciplinas mais interessantes da biologia. Dos vários comportamentos a que a etologia se dedica, os processos migratórios são dos mais cativantes, tanto na sua componente genética como cultural. Apesar de nunca ter seguido a via de investigação nesta área, continuei a manter o interesse no tema. Talvez por isso não tenha hesitado em escrever uma recensão sobre o livro “Migrações – das células aos cientistas”. Foi, pois, com todo o interesse que levei o livro para casa, e vagueei, como qual nómada incansável, pelos vários capítulos desta temática fascinante.

 

O livro em questão aborda o tema das migrações através de diferentes pontos de vista da biologia. Começa com a migração de células na progressão do cancro, passando pelos padrões migratórios em aves e no meio marinho, explica como os vestígios das migrações dos nossos antepassados primitivos juntamente com os conhecimentos atuais da genética permitem reconstituir a história da humanidade, e termina com uma reflexão sobre as causas que levam os cientistas a procurar trabalho noutros países. De facto, do ponto de vista biológico, a migração é de grande importância, por se tratar de uma estratégia que permite aos indivíduos ou populações a exploração de novos recursos, podendo aumentar a sua sobrevivência e, consequentemente, o seu sucesso reprodutivo.

 

Finda a leitura, contudo, permaneceu em mim uma sensação agridoce: uma mistura de prazer com uma questão que me acompanhou ao longo do livro: quem é o público-alvo? Será este um livro para jovens ou para adultos, para os leigos ou para os especialistas? Esta minha dúvida resulta da leitura de alguns excelentes textos de divulgação, que farão as delícias de qualquer leitor, intercalados com outros que são autênticos artigos científicos, com infindáveis recursos ao jargão técnico, e, para mais, escritos em inglês, língua que nem todas as pessoas dominam. Sugeriria, que esses textos fossem acompanhados por uma tradução portuguesa, numa edição futura, que muito ganharia com isso.

 

Há, contudo, uma explicação para este tipo de publicação. O livro resultou de um curso internacional e foi escrito por vários cientistas. Além disso, a ciência que se faz hoje é global, isto é, há uma deslocação dinâmica de cientistas por vários países. Até aqui se vê o tema da migração, não só pela nacionalidade dos autores, mas também no último capítulo que reflete sobre as causas da migração de cientistas para diferentes territórios.

 

Trata-se de um livro que, apesar de tudo, merece ser lido, tendo as migrações como o fio condutor que consegue unificar toda uma perspetiva migratória, desde uma escala celular até a uma visão antropológica do ser humano.

 

Título: “Migrações – das células aos cientistas”

Autor: Vários, Maria de Sousa (Coordenação)

Editora: Esfera do Caos, Lisboa, 2011

páginas: 210

 

 

João Lourenço Monteiro (Biólogo)

 

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João Lourenço Monteiro

Biólogo com mestrado em Biologia do Desenvolvimento, aluno de doutoramento em História e Filosofia da Ciência. Atualmente é comunicador de ciência no CIBIO-InBIO da Universidade do Porto.


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