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José Bonifácio: cientista e humanista (II)

26 Fev 2012 - 20h44 - 3.071 caracteres

(Continuação…)

No texto anterior, comecei por recordar a vida de José Bonifácio de Andrade e Silva, nascido no Brasil, e estudante na Universidade de Coimbra. Após a sua formação académica, realizou uma viagem por vários países da Europa para obter mais conhecimentos na área da mineração e metalurgia. Ao regressar a Portugal possuía várias competências pessoais e técnicas adquiridas ao longo da sua formação que pôde colocar ao serviço do país, ocupou importantes cargos públicos e foi lente na Universidade de Coimbra.

As Invasões Francesas

No entanto, este trabalho foi interrompido em 1807, período em que se iniciaram as Invasões Francesas. José Bonifácio, num ato de patriotismo, adiou uma viagem que tinha planeado ao Brasil, para permanecer em Portugal, onde teve parte ativa na defesa do território nacional: fabricou munições no Laboratório de Química da Universidade de Coimbra, foi Intendente da Polícia e ainda adquiriu o posto de Tenente-Coronel.

O Brasil e a política

Em 1819, com 56 anos, e já terminada a guerra, regressou ao Brasil onde realizou expedições pelo território com o seu irmão Martim Francisco (1776-1844) de modo a aprofundar o estudo dos ecossistemas locais. Para além do estudo da natureza, dedicou-se com igual paixão a causas políticas, tendo lutado pela independência do Brasil ao lado de D. Pedro I. Enquanto deputado da Assembleia Constituinte, apresentou projetos de lei na área ambiental sobre alterações do regime de propriedade de terra e preservação de florestas, e na área social sobre a abolição da escravatura, sobre a integração dos índios na sociedade brasileira e propôs a criação de escolas para uma educação universal. A defesa destes ideais custou-lhe a prisão e o exílio, após dissolução da Assembleia Constituinte, tendo ido para França. Nesse país, dedicou-se à poesia, sob o pseudónimo de Américo Elysio, e prosseguiu o seu combate à escravatura, defendendo numa carta: “Sem liberdade individual não pode haver civilização nem sólida riqueza, não pode haver moralidade e justiça (…)”.

            Em 1829 foi autorizado a voltar ao Brasil onde se tornou tutor dos filhos de D. Pedro I. No entanto, este regresso foi agridoce pois os seus inimigos políticos não lhe deram tréguas, nomeadamente o padre Diogo António Feijó, na época Ministro da Justiça, que o acusou de conspiração republicana e levantamento armado no Rio de Janeiro. Tudo isto levou a que dois anos depois, em 1833 fosse suspensa a atividade de tutor, e José Bonifácio fosse preso em sua casa, na ilha de Paquetá, tendo o julgamento decorrido à revelia, em 1835, com a absolvição como resultado.

            Em 1838, José Bonifácio, com 75 anos, morre pobre no Bairro de S. Domingos, em Niterói. É hoje recordado como um cidadão que lutou em prol da liberdade e igualdade do povo brasileiro, e como um naturalista que deixou imenso trabalho na área da botânica, zoologia e mineralogia. Nesta última área descobriu quatro novos minerais, sendo um deles conhecido como Andradita em sua homenagem.

 

Por: João Lourenço Monteiro (Biólogo)

 

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João Lourenço Monteiro

Biólogo com mestrado em Biologia do Desenvolvimento, aluno de doutoramento em História e Filosofia da Ciência. Atualmente é comunicador de ciência no CIBIO-InBIO da Universidade do Porto.


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