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Novo marcador para o cancro da mama

06 Mar 2012 - 15h01 - 3.540 caracteres

O cancro da mama é a principal causa de morte de mulheres entre os vinte e os sessenta anos, em países ricos. Programas de rastreio, e tratamentos mais eficazes têm aumentado a taxa de sobrevivência de doentes de cancro da mama, no entanto, as recaídas e cancros metastáticos associado são, ainda hoje, grandes desafios para a medicina.

Sofia Braga, médica oncologista no Centro Clínico Champalimaud e aluna do Programa de Formação Médica Avançada, é um dos vencedores da Bolsa Terry Fox deste ano. Com um valor de 15 mil euros, por um ano, este financiamento será utilizado no estudo de um potencial novo marcador da progressão do cancro da mama, que poderá servir de base a novos testes prognósticos aplicados a esta doença. Por outras palavras, o objectivo é o de antecipar a detecção de um potencial cancro da mama. O trabalho realizar-se-á no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e no Instituto Português de Oncologia (IPO), em colaboração com investigadores no Dana Faber Cancer Institute (Harvard, EUA).

Durante o seu doutoramento, no grupo de Genómica Computacional do (IGC), Sofia Braga comparou os padrões de activação de genes de 3,500 mulheres diagnosticadas precocemente com cancro da mama. Munida de informação sobre o prognóstico dado a estas mulheres, Sofia e os seus colegas identificaram os genes que estão diferentemente activados em mulheres que sofreram recaídas e as que não recaíram. Daqueles genes, identificaram 65 genes, entre os quais muitos que já são comumente utilizados na prática clinica, por serem bons marcadores de recaída. Mas identificaram também novos candidatos a marcadores: vários genes envolvidos na regulação dos centrossomas também são activados de forma diferente entre as duas amostras. Os centrossomas são pequenas estruturas celulares, essenciais para a organização do interior da célula, e para a correta divisão celular.

A ligação entre centrossomas e cancro foi estabelecida há já um século, e os cientistas sabem hoje que muitas células cancerosas têm centrossomas anómalos, ou em número excessivo. Numa célula, a presença de mais do que dois centrossomas espoleta a paragem da divisão celular, e, em última instância, a sua morte por um processo designado por apoptose, uma morte celular programada. Ao estarem sobre-activados, é possível que os genes que regulam os centrossomas silenciem, inibam os processos de autodestruição por apoptose. As células mantêm-se vivas, proliferam, induzem metástases e agravam o estado de saúde.

Sofia Braga acrescenta, “Ficamos surpreendidos quando descobrimos que estes genes são sobre-activados em células de doentes que sofrem recaídas. Pensamos que poderá existir uma ligação entre centrossomas alterados e um pior prognóstico de cancro da mama. A Bolsa Terry Fox permitir-nos-á quantificar a importância do prognóstico de uma sobre-activação destes genes. A partir desse conhecimento, poderemos pensar em desenvolver um teste padrão de prognóstico. Queremos ainda investigar o mecanismo pelo qual esses genes atuam nas células cancerosas, de modo a compreender de que forma asseguram a sobrevivência das células cancerosas”.

As bolsas Terry Fox são atribuídas pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) – Núcleo Regional Sul e pela Embaixada do Canadá. As verbas são angariadas pela Corrida Terry Fox, que se realiza todos os anos, em homenagem ao jovem canadiano que atravessou o país a pé, com o objectivo de angariar financiamento para a investigação em cancro.


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Ana Godinho

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