Os elefantes são todos iguais?
Ao contrário do que possa parecer, a resposta é um rotundo não.
Para começar, existem três espécies diferentes de elefantes: duas africanas (Loxodonta africana e Loxodonta cyclotis), mais estudadas, e uma asiática (Elephas maximum), acerca da qual se assumiam conhecimentos com base nas outras duas. Ora, resulta que os elefantes asiáticos, para além das diferenças anatómicas (como o tamanho), têm também grandes diferenças no seu comportamento social. Um recente estudo feito no Sri Lanka pela equipa de Shermin de Silva, uma cingalesa-americana descendente de portugueses, revelou novas informações acerca deste animal que, sendo o maior herbívoro da Ásia e há muito usado pelo homem, é bem mais enigmático que o parente africano.
Os elefantes macho e fêmea têm sociedades diferentes, sendo que eles são tipicamente mais solitários que elas. A novidade é que, ao contrário dos elefantes africanos, em que as fêmeas e crias se mantêm em grupos familiares coesos em volta das matriarcas (fêmeas mais velhas), os elefantes asiáticos têm uma estrutura social mais complexa e de difícil estudo. Nesta espécie, formam-se grupos mais pequenos, de 3 a 5 indivíduos que, mesmo sendo parentes, não passam demasiado tempo juntos. Mas que não se pense que são menos sociais! Na verdade, as fêmeas de elefante asiático formam unidades sociais dinâmicas (onde o parentesco nem sempre é bem definido) e, embora mudem de companheiras frequentemente, mantêm associações estáveis a longo prazo. A pequena “manada” que se observa num dado momento é então apenas um subgrupo de uma unidade social muito maior (de 10 a 50 indivíduos). Este tipo de organização social é designada pelos cientistas como fissão-fusão, já que o grupo social converge e se separa e as associações entre indivíduos não são estáticas, e tem sido detectada noutros animais (como orcas e chimpanzés). Pois é, afinal os elefantes também têm redes sociais! Têm grupos de “melhores amigas”, em menor número e aos quais dedicam mais tempo, e grupos de “colegas”, em maior número e com os quais passam menos tempo juntos. Esta estrutura dinâmica muda ao longo das estações do ano e não está claro qual é aqui o papel das matriarcas. E será que outras populações de elefante asiático se comportam da mesma forma? Há ainda muitos enigmas por solucionar!
Famosos por devastar campos de cultivo, na verdade os elefantes têm também um papel positivo no ambiente a longo prazo: eles “lavram” o solo com as suas presas, escavam buracos onde aflora água, desenraízam árvores e, através das fezes, dispersam sementes de plantas importantes para os humanos. A caça furtiva, o desaparecimento do seu habitat e as alterações climáticas são as principais ameaças aos elefantes asiáticos, que estão em perigo mesmo dentro de parques naturais. Como salienta a investigadora responsável por este estudo, é necessário e essencial trabalhar com as populações locais para encontrar formas de convivência com estas criaturas impressionantes, de modo que ambos os grupos possam prosperar.
© 2011 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
Diana Barbosa
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