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Clica para que te veja

04 Mai 2012 - 16h27 - 2.805 caracteres

Os cetáceos são mamíferos marinhos que dependem do meio aquático na totalidade do seu ciclo de vida. São difíceis de observar e de seguir, e consequentemente de estudar, já que vivem normalmente em baixas densidades em grandes áreas oceânicas e passam muito tempo no mundo subaquático. Mas não deixam de ser mamíferos. O que implica, entre muitos outros aspetos, a vinda à superfície para respirar ar atmosférico. Muitas espécies vivem sempre próximo da superfície, mas outras há que passam quase todo o seu tempo debaixo de água, a grandes profundidades, dando apenas breves escapadelas ao mundo aéreo para, literalmente, tomar ar para mais um mergulho.

Podemos mencionar os cachalotes, ainda considerados como recordistas do mergulho tanto em profundidade como em tempo dispendido. Mas verdadeiramente dignas de nota, são as baleias de bico. Chamam-se baleias, mas são odontocetos, possuindo dentes e um espiráculo único para respirar. Embora representem ¼ da ordem dos cetáceos, até há pouco tempo eram praticamente desconhecidas, tanto do público como dos cientistas, e o seu estatuto de conservação é ainda incerto. As baleias de bico passam grande parte da sua vida debaixo de água, mergulhando entre os 200 e os 400 metros, realizando aqui os seus comportamentos alimentares e sociais. Espreitam fora de água poucas vezes, e apenas muito brevemente. Como vivem tipicamente em zonas de relevos topográficos pronunciados, por vezes associadas a ilhas oceânicas, não são facilmente encontradas por olhares humanos. Quero dizer, não eram! Porque agora existem ajudas tecnológicas para observar, ou melhor, para ouvir estes animais.

São especialistas acústicos e emitem uma série de estalidos de alta frequência que servem para se orientarem, reconhecer o meio envolvente e identificar as presas (ecolocalização), mas também para comunicar entre si. Embora não emitam assobios, clicam, e os seus estalidos são registados e identificados em hidrofones. Atualmente já se desenvolveram métodos que, usando sensores acústicos fixos, gravam, entre muitos outros, os sons emitidos pelas baleias de bico. A análise permite, a posteriori, converter cada elemento acústico em estimativas de densidade e assim conhecer o tamanho das populações. Existe também a possibilidade de colocar um transmissor num indivíduo e, neste caso, é possível gravar os sons mas também perceber a que profundidades se deslocam e quando veem à superfície. Um conjunto significativo de informação ecológica e comportamental consegue, deste modo, ser registada, o que permite um melhor conhecimento destas espécies elusivas que vivem num ambiente que nos é inóspito. E já que são tão pouco observadas e conhecidas, é caso para dizer, clica para que te veja. E quem sabe, não se tornarão assim nas novas recordistas dos abismos oceânicos.

 

 

Cristina Brito

 

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

 

Referência da Fonte:

 

Marques, TA, Thomas L, Ward, J, DiMarzio N & Tyack P (2009). Estimating cetacean population density using fixed passive acoustic sensors: An example with Blainville’s beaked whales. Journal of the Acoustical Society of America, 125(4): 1982-1994.

 


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Cristina Brito

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