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O gene anti-envelhecimento que afinal nunca foi

06 Dez 2011 - 15h50 - caracteres

Neste verão um grupo de cientistas preveu que em 150 anos o envelhecimento estaria controlado. Mas será mesmo que sim? 

Nesta última décadanada pareceu mais promissor para este objetivo que a descoberta da sirtuina, uma proteína que parecia poder aumentar a longevidade e preveniras doenças ligadas ao envelhecimento numa variedade de organismos, incluindo mamíferos. O seu potencial era tal que, apenas4 anos após esta descoberta, a pequena empresa que se havia formado para a explorar foi comprada pelo gigante farmacêutico Glaxo SmithKlein pela soma extraordinária de 535 milhões de euros.

A ideia era procurar substancias que aumentassem a produção de sirtuinas, e destas desenvolver medicamentos e cosméticos anti-envelhecimento. Não demorou muito até aparecerem cremes com extrato de uva (que, presumidamente, ativavam as sirtuinas) e, em 2010, começavam os testes em humanos para potenciais medicamentos. Mas nem tudo era pacífico e regularmente apareciam resultados científicos contraditórios e criticas à teoria das sirtuinas.

Isto levou Filipe Cabreiro - um português no Institute of Healthy Ageing em Londres - a resolver voltar aos estudos originais, e, no estudo agora publicado na revista científica Nature, Cabreiro mostra que estes continham vários erros e como, uma vez estes corrigidos, as sirtuina perdem o efeito sobre o envelhecimento. De fato, quando se estuda a ação de um gene, este é introduzido em animais que não o têm, comparando-se depois esta nova população com a população original (sem o gene) mas assegurando primeiro que o gene é a única diferença entre as 2 populações. E este controlo nunca chegou a ser feito nas experiências que lançaram a sirtuina, um erro que poderá ter desperdiçado anos de investigação à volta de um mecanismo que, afinal, parece não ser real. Mas o novo estudo não será aceite facilmente, há demasiados interesses em jogo - demasiados milhões, demasiados anos - e isto sem mencionar a reputação dos cientistas envolvidos. Aconteça o que acontecer, esta é uma história fascinante que vai valer a pena seguir.


© 2011 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Catarina Amorim

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