Registo | Contactos

Dinossauros: Velhos Mitos (1)

14 Dez 2011 - 16h13 - 2.795 caracteres

Um dos motivos pelos quais a paleontologia de dinossauros exerce uma tão grande atracção quer sobre os adultos, que sobre os mais novos, parece estar associado ao fascínio pelo aventureiro explorador. Explico: a maioria das descobertas paleontológicas remete para um imaginário de zonas inóspitas e desérticas, onde a civilização parece não ter querido chegar e onde aventureiros destemidos enfrentam as adversidades da Natureza e os contratempos humanos. Há, assim, associado aos dinossauros, um lado de aventura e descoberta, de perigo e de revelação de um mundo desaparecido.

A faceta Indiana Jones a que o paleontólogo de dinossauros é associado não é de todo indevida, já que na origem dessa personagem esteve um investigador que descobriu dinossauros. Nos anos 20 do século passado, e ao serviço do Museu Americano de História Natural, Roy Chapman Andrews (1884-1960) organizou a primeira de várias expedições americanas ao deserto de Gobi, na Mongólia. Andrews tinha inicialmente o objectivo de explorar áreas geográficas que pudessem ter sido berço da humanidade, suspeitando da importância da Mongólia para esta questão. As quatro expedições, iniciadas em 1922, integravam, para além dos camelos autóctones das planícies mongóis, vários Ford’s T que permitiram a pesquisa das vastidões de um dos desertos mais inóspitos do mundo. Numa das suas fotografias mais emblemáticas, Andrews apresenta-se de chapéu e carabina, contemplando a vastidão do deserto. Assim, Andrews foi a principal fonte de inspiração dos criadores da personagem Indiana Jones – ambos eram arqueólogos, aventureiros de espaços longínquos e tinham um chapéu característico. A principal diferença entre a personagem Jones e o homem Andrews é que este último descobriu vários dinossauros, entre os quais o Velociraptor e o Protoceratops, bem como ovos e ninhos de dinossauro.

Ao Protoceratops, descoberto pelas expedições de Andrews na Mongólia, está associada uma teoria que une os dinossauros e a mitologia grega. Adrienne Mayor, historiadora e antropóloga americana, propõe, no seu livro "The First Fossil Hunters", que na origem do Grifo, figura mitológica, terão estado os dinossauros. Como? No séc. VII A.C., os gregos estabelecem contactos com nómadas Citas, exploradores de ouro no deserto de Gobi. Estes povos da Ásia central referiam a existência de um monstro protector das reservas do metal dourado que teria cabeça e asas de águia num corpo de leão – é o nascimento da lenda do grifo na cultura grega. É enorme a semelhança entre os restos de Protoceratops, muito abundantes no deserto de Gobi, e a figura mitológica do Grifo que poderá explicar, segundo Mayor, que os primeiros gregos (desconhecedores dos dinossauros) conhecessem dinossauros muito antes de Richard Owen os definir no século XIX.

(Continua)


© 2011 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Luís Azevedo Rodrigues

Veja outros artigos deste/a autor/a.
Escreva ao autor deste texto

Ficheiros para download