Charcos repletos de vida
Por: João Lourenço Monteiro
O ano de 2012 tem sido, praticamente desde o início, quente e seco; exceção para o quarto mês que fez justiça ao provérbio “Em abril, águas mil”. A época das chuvas corresponde a aquele período do ano em que as crianças traquinas vestem os impermeáveis, calçam as galochas e vão para a rua saltar nas poças formadas nos passeios desnivelados, nos caminhos esburacados, ou nos terrenos lamacentos dos parques. Esta é também uma altura propícia para a formação de novos charcos.
Os charcos distinguem-se das poças pelo seu maior tamanho e duração. Há essencialmente três características que podemos usar para definir um charco: é uma quantidade de água parada que tem de possuir uma área que varie entre 1 e 10 000 m2, apresentar uma profundidade variável de alguns centímetros até dois metros e tem de ter uma duração mínima de quatro meses.
Em países mediterrânicos, como Portugal, a chuva não é constante ao longo do ano, existem fases intercaladas de chuva e seca, e, por essa razão, existem no nosso país muitos charcos temporários – charcos que duram apenas alguns meses.
Mas o que existirá de tão interessante neste meio aquático? Porque são os charcos tão importantes? Pode não parecer à primeira vista, mas a verdade é que estas massas de água estão repletas de vida! Um observador atento, pode encontrar algas e plantas, que são importantes por absorverem o dióxido de carbono e libertarem oxigénio de volta para a atmosfera; pequenos crustáceos; larvas de insetos e libélulas; anfíbios, como rãs e salamandras, que são ótimos controladores de pragas; diversas e magníficas aves que pousam para descansar e beber água. Acrescente-se ainda a tudo isto uma misteriosa microfauna que só se revela sob a lente de um microscópio, e temos vários motivos para nos fascinarmos com a natureza.
Assim, após aqueles dias de chuva em que só apeteceu ficar em casa, visite um charco perto de si, e procure explorar a vida que lá se encontra. Acompanhe as transformações que vão decorrendo ao longo das semanas: pode observar as metamorfoses de girinos que se modificam até rãs, o desenvolvimento das algas e plantas, e mais seres vivos irão colonizar aquele habitat. Se quiser tirar fotografias ou fazer identificação das espécies que encontra, vá com tempo. É que, com o passar dos dias, vai verificar que os charcos estão mesmo repletos de vida.
João Lourenço Monteiro (Biólogo)
Ciência na Imprensa Regional
© 2012 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
João Lourenço Monteiro
Biólogo com mestrado em Biologia do Desenvolvimento, aluno de doutoramento em História e Filosofia da Ciência. Atualmente é comunicador de ciência no CIBIO-InBIO da Universidade do Porto.
Veja outros artigos deste/a autor/a.
Escreva ao autor deste texto
Ficheiros para download Jornais que já efectuaram download deste artigo