Isto é outra história
Por: Cristina Brito
O ambiente tem atraído mais esforços integrativos ou de interdisciplinaridade do que qualquer outro aspecto da vida humana, um dos quais é o campo bastante diverso e em permanente evolução da história ambiental.
Mas que história é esta? A história ambiental utiliza informação das ciências humanas, sociais e naturais, e procura compreender como o ser humano viveu, pensou e explorou o meio natural através do estudo das alterações ambientais ao longo do tempo. Nesta disciplina utiliza-se o conhecimento sobre o passado numa perspetiva sócio-cultural e económica visando também a manutenção e conservação dos ecossistemas naturais.
O valor desta informação histórica aumenta consideravelmente pela comparação, síntese e experiência reunida das múltiplas áreas científicas e os esforços de investigação requerem sempre colaboração e o apoio de inúmeros especialistas. É essencial a participação de arquivistas, historiadores, antropólogos, biólogos, geólogos, naturalistas e “conhecedores”. Para estudar história ambiental é necessário juntar, num mesmo investigador ou numa equipa, um conjunto diversificado de metodologias. São exemplos, a identificação e obtenção de recursos históricos - documentos e outras fontes em arquivos -, a compreensão dos contextos sociais e limitações técnicas dos documentos históricos e a análise dos inúmeros registos, de forma a preencher lacunas ou calibrar fontes independentes. Para este fim pode ser utilizada informação retirada de relatórios históricos, crónicas, mapas, registos de capturas, estatísticas históricas, registos de impostos, desenhos, pinturas e outras representações visuais. Mais, para a interpretação dos registos históricos, é importante ter fundamentos de ecologia e biologia, técnicas de análise geográfica, cartografia, transformação de datuns históricos e projeções e metodologias de integração de dados. A pesquisa deste material fornece pistas particularmente relevantes para perceber distribuições históricas, alterações em paisagens e ambientes, mas também para estabelecer relações com as várias atividades humanas.
Para os cientistas ambientais, a história tem sido uma importante ferramenta desde há bastante tempo e, quando bem documentada, pode ser a chave para explicar a variabilidade temporal e as condições atuais de um determinado ecossistema. Para os historiadores, perceber o meio ambiente onde as pessoas se inseriam permite enquadrar padrões socais, económicos e culturais. Desde há milhares de anos que os humanos usam os mais variados recursos naturais para alimentação, vestuário, combustível, medicina e ornamentos e foram, deste modo, alterando o meio onde se viviam. São os registos históricos que permitem determinar como diferentes atividades afetaram o meio, a sua estrutura e função, mas principalmente permitem documentar processos naturais e antropogénicos, ecológicos e físicos, no decorrer de um longo período de tempo. Assim se criam as fundações para estabelecer padrões históricos sobre o ambiente cada vez mais alargados e generalizados. E isto, sim, é outra história!
Cristina Brito
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