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Fêmeas promíscuas são mais férteis

18 Out 2012 - 17h42 - 2.342 caracteres

As fêmeas que têm múltiplos parceiros sexuais podem ser mais férteis do que as fêmeas monogâmicas, resultando numa maior produção de descendência do sexo masculino. Estes são os resultados provisórios de um estudo que ajuda a explicar um enigma que assombra há décadas os biólogos evolutivos: por que é que as fêmeas tendem a escolher vários parceiros sexuais quando apenas um é suficiente para fertilizar os ovos.

Para testar esta teoria, Miguel Barbosa (Universidade de Aveiro, Portugal), Anne Magurran e Maria Dornelas, (Universidade de St. Andrews, Escócia), e Sean Connolly e Mizue Hisano (Universidade James Cook, Austrália), desenvolveram uma abordagem que permite distinguir os benefícios directos e indirectos da poligamia nas fêmeas.

"Os nossos resultados têm amplas implicações para estudos evolutivos e em particular para a evolução da escolha da cópula", diz Miguel Barbosa, “ainda há a ideia intrínseca de que o sucesso reprodutivo feminino é independente do número de parceiros, mas dependente do número de ovos fertilizados. Esta ideia segue a sugestão de que as fêmeas são o sexo passivo, com uma capacidade limitada para alterar o curso do processo de acasalamento. Os nossos resultados, refutam esta ideia, mostrando que as fêmeas estão no lugar principal do processo reprodutivo ao obterem benefícios directos a partir da multiplicação de parceiros. “

As vantagens e os custos da poligamia

Miguel Barbosa e os colegas investigadores acasalaram fêmeas com um ou vários machos, e seguiram duas gerações de descendência: descendentes de primeira linha (“filhos”) e descendentes de segunda linha (“netos”). Descobriram que as fêmeas poligâmicas tinham cerca de 1,5 vezes mais “netos” do que as fêmeas monogâmicas e que tal era devido a estas fêmeas terem tido mais “filhos” do sexo masculino viáveis (83% mais) do que as fêmeas monogâmicas.

“Estes dois benefícios – mais descendentes e uma capacidade de alterar a relação numérica do sexo da prole – seriam importantes ‘armas’ para o sucesso evolutivo das fêmeas, ajudando a explicar porque gastam tanto tempo e energia em busca de múltiplos parceiros sexuais, arriscando infecções e até mesmo ataques de predadores”, remata Miguel Barbosa.

Maria João Pratt

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Nota: O estudo foi feito com peixes guppy de Trinidade (Poecilia reticulata), pequenos peixes de água doce onde a poligamia é comum em ambos os sexos.

 

Fonte: http://www.alphagalileo.org/ViewItem.aspx?ItemId=124933&CultureCode=en

Referência artigo: Miguel Barbosa, Sean R Connolly, Mizue Hisano, Maria Dornelas and Anne E Magurran, Fitness consequences of female multiple mating: A direct test of indirect benefits. BMC Evolutionary Biology 2012, 12:185 doi:10.1186/1471-2148-12-185. http://www.biomedcentral.com/1471-2148/12/185/abstract


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Maria João Pratt

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