Cientistas à caça de gargalhadas
Por: Leonor Medeiros
Carlos Fiolhais, uma das mais eminentes figuras da ciência em Portugal, e David Marçal, especialista em comunicar com piada, lançaram-se a quatro mãos em “Darwin aos tiros e Outras Histórias de Ciência”, e caçaram-nos boas gargalhadas.
A colecção Ciência Aberta, da Gradiva, continua a demarcar-se pela qualidade e originalidade das obras científicas que faz chegar ao público, em livros práticos, com conteúdos acessíveis, e até divertidos.
Este centésimo nonagésimo título revela a capacidade dos seus autores para traduzir com piada os conceitos científicos, pois temas como a evolução das espécies ganham outra proximidade quando vemos como uma “vantagem na luta pela sobrevivência (…) um pescoço maior, que lhe possibilita chegar a alimentos nos armários mais altos da cozinha”.
Carlos Fiolhais há muito que nos traz livros e projectos fascinantes na área da ciência, e junta-se aqui ao bioquímico David Marçal que, embora estreante na publicação de livros, tem já um longo currículo em projectos de comunicação de ciência e em fazê-lo com graça, quer na imprensa, televisão ou teatro.
É por isso que nesta obra não faltam episódios interessantes da história da ciência, factos científicos, e muitas oportunidades de rir, com cerca de uma centena de pequenas histórias sobre Matemática, Astronomia, Física, Química, Geologia, Biologia, Medicina, e até de Pseudociência.
Nuns parágrafos mais complexos (afinal estamos a falar das chamadas “ciências duras”), noutros mais simples e acessíveis, estas pequenas histórias são excelentes compilações de curiosidades e introduções aos temas. No entanto, não se debruçam sobre eles, ficando em alguns casos aquém do que gostaríamos de saber, cabendo ao leitor ir à secção de notas para aprofundar a seu gosto os temas que mais o cativem.
Esta obra fala sim da história da ciência, recheada de informações sobre os homens e os acontecimentos que a tornaram possível. Sabia que um naturalista menos famoso, Alfred Wallace, chegou às mesmas conclusões que Charles Darwin, mas que este se adiantou por ter os meios necessários para publicar o seu estudo? Ou ainda que o DDT, o insecticida tão temido nos nossos dias, valeu um Prémio Nobel da Medicina, foi herói de guerra e ainda ajudou a fundar o movimento ambientalista moderno?
Mas esta obra, embora ligeira e fácil de ler, não foge de tocar em histórias mais negras, pois a ciência não se fez sem erros, e nem sempre foi usada para os melhores fins. E procura que o leitor desenvolva o seu espírito crítico, essencial a qualquer cientista, lançando questões pertinentes e actuais.
Esta obra consegue assim fazer chegar a ciência ao público, providenciando uma introdução a estes temas habitualmente densos e estimulando o leitor a aprofundar o seu conhecimento noutras fontes (e se não o fizer, terá pelo menos um vasto leque de informações para tornar as suas conversas mais interessantes). E quanto à satisfação de aprender, aí os autores acertaram em cheio no alvo.
© 2011 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
Leonor Medeiros
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