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A cor do Outono

09 Nov 2012 - 20h42 - 3.500 caracteres

Do largo espectro da radiação electromagnética, apenas uma ínfima parcela é detectada, sentida conscientemente e interpretada pela visão humana. A esta parcela do espectro costuma-se chamar luz visível.

O fenómeno da cor de um objecto é o resultado de vários factores: o iluminante, o próprio objecto e o receptor. Em última análise tem a ver com a luz que chega aos olhos, intacta tal como é produzida pela fonte ou transformada espectralmente pelo objecto observado.

Os olhos contêm na sua superfície interior posterior um conjunto de quatro tipos de sensores para receber e transmitir ao cérebro a informação obtida a partir das imagens de objectos aí formadas. Os bastonetes têm uma alta sensibilidade em todo o espectro visível com um máximo na sua zona central, dando uma informação integrada da luz que aí chega. Os outros três tipos de sensores, os cones, são sensíveis a diferentes zonas do espectro, dando assim informação conjugada ao cérebro, resultando numa sensação a que chamamos cor.

Os objectos podem interagir com a luz de modo diferente, consoante a sua constituição atómica ou molecular. Assim, podem absorver a luz numa certa zona espectral, difundi-la ou deixá-la atravessar.

Como exemplo, a cor azul do céu é resultante da difusão preferencial que as partículas do ar provocam na zona azul do espectro visível, observando-se transversalmente em relação à direcção de incidência dos raios solares. Pelas mesmas razões, a cor alaranjada do céu na direcção próxima da do sol, deve-se ao facto de a luz, ao atravessar a atmosfera, ‘perder’ parte da radiação na zona do azul.

Os fenómenos de absorção e difusão funcionam conjugados. Assim, como exemplo, se um objecto, iluminado com luz branca (cobrindo todo o espectro visível), absorve essencialmente na zona do azul, a sua ‘cor’ será amarelada, ou se absorve na zona do verde, a sua ‘cor’ é magenta (misto de azul e vermelho).

Se a iluminação dum objecto branco for feita com luz azul, o objecto parece ter a cor azul. Se, porém, o mesmo objecto for iluminado com luz vermelha, ele é percepcionado como vermelho. Por outro lado, um objecto que apenas difunda luz ‘vermelha’ e absorva tudo o resto do espectro visível, se for iluminado com luz branca, parecerá vermelho, mas se for iluminado com luz azul, parecerá negro, uma vez que ele absorve essa radiação.

Os objectos também podem ‘adquirir’ cor através de outros fenómenos ópticos, tais como pela reflexão (‘cor’ da superfície da água num lago, que reflecte as imagens de objectos no exterior), refracção (arco-íris que se forma pela passagem da luz pelo interior das gotas de água da atmosfera) ou pela difracção da luz (na superfície de uma mancha de óleo, na superfície de um CD ou de um DVD).

Finalmente, deve considerar-se que, ao longo do ano, a luz do sol incide segundo inclinações diferentes, variando em função da latitude do lugar. Assim, no inverno em Portugal e para o mesmo cenário e hora do dia, a luz do sol atravessa maior quantidade de ar na atmosfera, ficando a sua cor mais amarelada do que no verão. Além disso, a maior quantidade de água na atmosfera favorece a formação de nevoeiros e nuvens, fazendo com que haja menos intensidade de luz a incidir na superfície da terra e maior difusão da luz em todo o seu espectro. Os próprios objectos existentes na natureza, nomeadamente as árvores e outras plantas, mudam a sua estrutura ou composição molecular. Por todos estes factores, a passagem do verão para o outono é a altura do ano em que se nota mais a mudança desde cores mais ‘quentes’ para cores mais ‘frias’.

 

Francisco Gil

(Departamento de Física, Universidade de Coimbra)

 

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