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A verdade das notícias...

23 Dez 2012 - 17h43 - 3.700 caracteres

No dia-a-dia lemos, vemos ou ouvimos notícias que constituem um quadro de referências em que se baseia a forma como pensamos e tomamos decisões. No entanto, interpretar a informação noticiosa exige de nós competências a nível lógico. Isto porque se torna fundamental discernir se os argumentos que nos são apresentados são verdadeiros, sejam eles na forma de afirmações de políticos ou como resultado  da interpretação que o jornalista faz de algum novo estudo médico.

De facto, não é novidade que as notícias nem sempre contém informação credível, o que nos obriga a um hábito de questionamento sobre a informação noticiosa com que contactamos, isto se queremos evitar acreditar, por exemplo, em promessas falsas de políticos ou em resultados extraordinários de um estudo médico que foi aplicado num número residual de pessoas.

É neste contexto que o pensamento crítico, e em particular a lógica, assume um papel importante, uma vez que nos fornece as ferramentas necessárias para identificarmos os erros que possam existir em argumentos que se apresentam.

São vários os “erros” de que se fala aqui, sendo que alguns se encontram mais comummente que outros.

Tomemos alguns exemplos:

É frequente verificar em notícias, a generalização apressada de factos, ou seja, tirar conclusões gerais partindo apenas da evidência da ocorrência de alguns casos. Um argumento deste género não deve ser considerado válido, uma vez que a indução requer a recolha do maior número possível de evidências que sejam plausíveis e consistentes com a hipótese de partida. Um exemplo prático deste caso encontra-se na edição online do Jornal de Notícias, de Abril de 2011, onde foi publicada uma notícia cujo título era “Misturar medicamentos com chá pode ser fatal”. Nesta, a jornalista afirma que “Chá e extracto de plantas anulam ou multiplicam efeito de medicamentos”, estabelecendo uma generalização injustificada quando ao efeito da combinação de qualquer chá ou extrato de planta com medicamentos.

Um outro exemplo ocorreu no programa Prós e Contras de 21.01.2008, sobre a implementação da lei anti-tabaco em Portugal. Neste a Doutora Fátima Bonifácio afirmou: “Criou-se a uma ideia disparatada de que o fumo passivo é tão nocivo quanto o ativo, mas não há a menor evidência científica disso. A minha mãe tem 98 anos e viveu toda a vida numa casa onde toda a gente fumava e está ótima de saúde”.

A interveniente procura justificar, com o caso particular da sua mãe, que o fumo passivo não é tão prejudicial como o ativo.

No entanto este é só um dos muitos erros que podemos encontrar. É também frequente o uso de argumentos do género “isto ou aquilo” (falsa dicotomização), negligenciando a existência de outras opções válidas.

Um exemplo prático deste erro é novamente a notícia do Jornal de Notícias, publicada online em Abril de 2011 e cujo título era “Misturar medicamentos com chá pode ser fatal”. Nesta, a jornalista afirma que “Chá e extracto de plantas anulam ou multiplicam efeito de medicamentos”, desconsiderando a hipótese de haverem extratos de plantas ou chás que não provoquem qualquer tipo de efeito quando tomados em combinação com medicamentos.

Estes são apenas dois exemplos de erros que encontramos frequentemente em artigos noticiosos, no entanto o uso de argumentos estende-se aos mais variados contextos da nossa vida e portanto a sua análise deve ser também aplicada para além do contexto das notícias.

Deixam-se dois exemplos adicionais ilustrados nas figuras 1 e 2.

É com base em argumentos que fazemos valer ideias e usando o pensamento crítico (e em particular a lógica) que podemos discernir sobre a validade dessa informação, por isso, pensemos criticamente.

 

 

Susana Pereira (Matemática e comunicadora de ciência)

 

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