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Revelado mecanismo importante na formação de tumores

07 Mai 2013 - 20h01 - 3.300 caracteres

O cancro é uma doença complexa, na qual as células passam por uma série de alterações que incluem modificações da sua arquitetura e maior capacidade de se dividirem, sobreviverem e invadirem novos tecidos, formando metástases.

Os oncogenes são uma classe de genes que codificam proteínas cuja atividade favorece o desenvolvimento de tumores. Uma destas moléculas, Src, está implicada num grande número de tumores humanos. No entanto, ainda não é clara a forma como as células saudáveis são capazes de travar a atividade deste oncogene, prevenindo que se tornem malignas.

Na última edição da revista Oncogene, Florence Janody e o seu grupo, no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), identificaram um novo mecanismo pelo qual a atividade de Src é limitada pelo esqueleto da célula, o citoesqueleto, limitando o desenvolvimento de tumores.

Usando como modelo a mosca da fruta, Drosophila melanogaster, Florence Janody e o seu grupo foram capazes de travar o desenvolvimento de tumores induzido pela atividade de Src, através da manipulação genética do citoesqueleto, em tecidos deste organismo.

Um dos principais componentes do citoesqueleto, a actina, forma uma espécie de cabos que constituem uma rede por onde as moléculas se movimentam dentro da célula. Estes cabos estão em constante afinação: as suas extremidades crescem e encolhem por adição ou remoção de componentes através da ação de proteínas, as “actin-capping” (designação em inglês), que vão regulando este processo.

O grupo de Florence Janody mostrou que o desenvolvimento de tumores é travado na presença de elevados níveis do “afinador” actin capping protein. Este “afinador” restringe a atuação de proteínas que são normalmente ativadas por elevados níveis de Src. Apesar do mecanismo molecular preciso ainda não ser conhecido, a  hipótese levantada por estes investigadores é de que o “afinador” cria uma tensão nos cabos do citoesqueleto que impede a ação destas proteínas. De modo inverso, a atividade do oncogene Src é aumentada quando os níveis de actin capping protein estão diminuídos, uma vez que as proteínas ativadas conseguem-se libertar do efeito bloqueador da rede do citoesqueleto e atuar na célula, resultando no desenvolvimento de tumores.

Assim, quando a rede do citosqueleto não é controlada com precisão, oncogenes como Src não ficam retidos, observando-se o desenvolvimento de tumores.

Florence Janody diz: “É como se o citoesqueleto funcionasse como uma rede de “arame farpado”. O vencedor da competição entre as moléculas do citosqueleto e o oncogene Src, que luta contra o “arame farpado”, irá determinar se a célula se manterá saudável ou se tornará cancerígena.”

Beatriz García Fernández e Barbara Jezowska, primeiras autoras do trabalho, acrescentam: “O nosso trabalho sugere que o aparecimento de mutações, em moléculas que regulam o citoesqueleto, pode ter um papel significativo na indução do desenvolvimento do cancro, durante os primeiros estadios da doença, por permitirem a libertação da atividade destes oncogenes.”

Src foi o primeiro oncogene a ser descoberto, na década de 1950, como sendo capaz de induzir o cancro. A importância desta descoberta foi reconhecida com o Prémio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1989.

Este estudo foi desenvolvido no IGC e foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Portugal).

 

Inês Domingues (IGC)

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

 

Referência artigo

García Fernández, B., Jezowska, B., and Janody, F. (2013) Drosophila actin-Capping Protein limits JNK activation by the Src proto-oncogene, Oncogene, May 6, doi:10.1038/onc.2013.155

 

Legendas:

Foto: Florence Janody, Investigadora Principal do Grupo de Dinâmica da Actina, no IGC. Créditos: Roberto Keller, IGC.

 

Legenda: A) Crescimento excessivo de tecido no disco da asa da larva da mosca da fruta (tecido que origina a asa na mosca adulta) devido à presença de níveis elevados da atividade de Src; B) Este crescimento é moderado devido a uma maior expressão do “afinador” actin capping protein. Créditos: Beatriz Gárcia Fernandéz, IGC.

 

 

Florence Janody http://wwwpt.igc.gulbenkian.pt/pages/groups.php/A=73___collection=groups___group=1


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Inês Domingues (iMM)

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