É possível tratar melhor as depressões
Por: Cristina Pinto / Universidade de Coimbra
Uma equipa multidisciplinar, liderada por Manuela Grazina, coordenadora do Laboratório de Bioquímica Genética do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) e docente da Faculdade de Medicina da Universidade Coimbra (FMUC), focou-se em identificar as alterações genéticas, características dos perfis de metabolização, do gene CYP2D6 que codifica uma das principais enzimas envolvidas no metabolismo dos fármacos utilizados para tratar doenças neuropsiquiátricas, como p. ex., a Depressão, e as toxicodependências. Este estudo está em fase de publicação na Revista “Personalized Medicine”.
Sendo o gene CYP2D6 bastante polimórfico (com múltiplas formas), os investigadores de Coimbra e de Badajoz identificaram os quatro principais perfis de metabolização – ultrarrápidos, muitos lentos, extensivos e intermédios – sendo os dois primeiros altamente problemáticos porque, explica a coordenadora do estudo, «a eficácia do fármaco administrado depende da forma como o organismo o processa. Se a reação é muito lenta, o medicamento acumula-se no organismo e pode gerar efeitos indesejáveis. Se a reação é muito rápida, o fármaco é degradado, influenciando igualmente a resposta terapêutica. Ou seja, as características genéticas de cada individuo decidem a eficácia dos fármacos consumidos e o aparecimento de efeitos tóxicos».
O estudo, aprovado pela Comissão de Ética, envolveu 300 voluntários adultos portugueses, de várias regiões, e permitiu concluir que mais de 665 mil portugueses possuem o perfil de metabolizadores lentos e 496.422 ultra rápidos. Para fazer a extrapolação para a população portuguesa, a equipa utilizou resultados dos Censos 2011, publicados pelo INE (Instituto Nacional de Estatística).
Estes resultados, realça Manuela Grazina, «além de muito importantes para melhorar a segurança dos medicamentos, são uma ferramenta essencial para a prática clínica porque permite ao médico prescrever a medicação e a dose mais adequadas, que podem evitar o surgimento efeitos patológicos. Mais de um milhão de portugueses poderia beneficiar deste conhecimento».
Dada a importância deste gene - entra na metabolização de 25% dos fármacos regularmente utilizados na prática clínica, entre os quais antidepressivos, analgésicos e opióides - e considerando o impacto social e económico causado por doenças neuropsiquiátricas, como a Depressão, ou pela dor crónica, a investigadora defende que «um investimento neste tipo de estudos é crucial para a prevenção a longo prazo».
A pesquisa foi desenvolvida no âmbito de um projeto internacional do Consortium of the Ibero-American Network of Pharmacogenomics and Pharmacogentics – RIBEF - onde também foram traçados os perfis das populações do Brasil, de Espanha e de Cuba, entre outras.
O estudo irá continuar com a investigação deste e de outros genes (p.e. recetores e transportadores de dopamina, serotonina), em toxicodependentes, em colaboração com a Unidade de Desabituação do Centro (Diretor Dr. João Curto), para compreender as diferenças observadas na eficácia da desintoxicação, com base nas variações genéticas e metabólicas.
Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra)
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