Conselhos para iniciação nas observações astronómicas: O salto do binóculo para o telescópio (3/3)
O salto do binóculo para o telescópio
Após alguma prática regular de observações astronómicas com um binóculo (30 a 40 horas), o leitor estará preparado para utilizar um telescópio. A prática anterior com o binóculo foi essencial, pois agora verá que o buscador do telescópio, que auxilia a pontaria, se comporta aproximadamente como meio binóculo, permitindo-lhe apontar facilmente o telescópio.
Nesta fase, o leitor já acumulou umas 65 horas de observação (olho nu + binóculo). Não largue o binóculo, que é e será sempre útil. Na melhor das hipóteses, o campo coberto por um telescópio comum corresponderá ao diâmetro de uma ervilha grande, vista à distância de um braço estendido. É por isso que o telescópio é de uso um pouco mais difícil que um binóculo e requer mais "horas de céu" por parte do utilizador. Seja persistente. Quanto mais vezes usar o telescópio mais à vontade se sentirá com o céu e com as observações. A sua satisfação será maior. Mas não abandone o hábito de também observar o céu a olho nu.
Quando utilizar um telescópio, não abuse da amplificação (é com 30 a 150 vezes que tem as melhores imagens). Ao diâmetro útil da objectiva de um telescópio chama-se geralmente “abertura”. Se prefere um telescópio refractor (luneta) escolha uma abertura não inferior a 80 mm. Se for reflector, poderá ser maior. Escolha um telescópio que não seja demasiado grande (ou demasiado pesado) para a sua idade ou estilo de vida. Um "primeiro telescópio" não deve ter mais de 200 mm de abertura. Mais vale um telescópio de 114 mm ou de 150 mm que possa usar com frequência do que um de 300 mm para o qual estará sempre a ”arranjar” desculpas para não o utilizar. Para quem escolheu mais com a paixão do que com a razão, as “desculpas a posteriori são clássicas: “este telescópio, afinal, pesa muito”, “esta noite está muito frio, fica para o próximo fim-de-semana”.
Tenha em mente que "o barato sai caro": compre o telescópio só quando puder poder dispor de, pelo menos, 400 euros. Ou então procure telescópios em segunda mão. Observe a Lua e os planetas, os enxames de estrelas, nebulosas, galáxias, por ordem de dificuldade crescente, à medida que o seu treino for aumentando.
Arranje bons atlas e livros de apoio à observação. Parta à descoberta do céu: já sabe voar com as suas próprias asas. Desfrute da vista e ensine outras pessoas a conhecer o céu, continuando o ciclo de partilha desta experiência fascinante.
Guilherme de Almeida
Para saber mais:
Observar o Céu Profundo, 2.ª edição, Plátano Edições Técnicas, Lisboa, 2003.
Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas, 7.ªed., Plátano Editora, Lisboa, 2004.
Telescópios, Plátano Editora, Lisboa, 2004.
© 2013 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
Guilherme de Almeida
Guilherme de Almeida (n. 1950) é licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária. Proferiu mais de 80 de palestras sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, publicou mais de 90 artigos e é formador certificado nestas matérias. Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação. É autor de oito livros sobre Astronomia, observações astronómicas e Física. Algumas das suas obras também estão publicadas em inglês, castelhano e catalão. Mais informação em http://www.wook.pt/authors/detail/id/5235
Veja outros artigos deste/a autor/a.
Escreva ao autor deste texto
Ficheiros para download
- FOTO - Exemplos de telescópios de amador: Telescópios reflectores de Newton em montagem de Dobson (ao centro e à esquerda); telescópio refractor, em montagem equatorial (à direita). (JPEG 168 KB)
- FOTO - Telescópio reflector de Newton, em montagem equatorial alemã sobre tripé. (JPEG, 104 KB)
- TEXTO - Conselhos para iniciação nas observações astronómicas - 3 – O salto do binóculo para o telescópio