Afinal, o que é e como se escreve um bilião?
Nos jornais, livros e revistas, nos filmes, na rádio e até na televisão lemos ou ouvimos afirmações vindas de portugueses que supõem que um bilião significa mil milhões. Outros afirmam que um bilião é um milhão de milhões. Como isto não é matéria de gosto (o tradicional "acho que…"), mas uma questão de normalização, só uma das versões é que está correcta. Mas qual delas?
A nomenclatura dos grandes números foi estudada pelo Bureau des Longitudes de Paris e apresentada ao Comité International des Poids et Mesures. Esta organização internacional recomendou, por unanimidade (já em 1948), a designação dos grandes números para os países europeus. A recomendação foi adoptada oficialmente em Portugal a 11 de Novembro de 1953 e 4 de Março de 1959 e passou a estar normalizada entre nós desde 1960 (Norma Portuguesa NP-18). A tabela ao lado mostra alguns exemplos do uso desta normalização apresentando também, para comparação, os nomes usados em outros países europeus:
O desconhecimento desta norma origina confusões desnecessárias. Em contrapartida, nos Estados Unidos da América 1 000 000 000 é designado como "billion" e no Brasil chamam-lhe "bilhão", mas estes não são países europeus (e por isso utilizam uma norma diferente). É preciso estar alerta nas traduções ou quando lemos no original obras não europeias que envolvam grandes números. Por exemplo: não existem na Terra sete biliões de pessoas (são pouco mais de sete mil milhões); por outro lado, a idade da Terra é de cerca de 4700 milhões de anos (4,7x109 anos), mas não se diga "4,7 biliões de anos". Como os grandes números não são uniformes em todo o globo, convém estar sempre atento (ver caixa Para saber mais).
Para eliminar dúvidas, quando se tem de escrever números muito grandes é preferível utilizar a indicação numérica por extenso em vez de fazer uso dos nomes desses grandes números; ou então, para esclarecimento, colocar os correspondentes números por extenso logo a seguir a esses nomes (entre parênteses). Podemos ainda usar as potências de base 10, como se vê na quinta coluna da tabela, onde o expoente indica o número de zeros que se seguem ao algarismo 1. A escrita numérica por extenso, no caso de números muito grandes, tem o aborrecido inconveniente de obrigar o leitor a contar os zeros.
Como se pode ver na tabela, não se utilizam pontos (mas sim espaços) a separar os grupos de três algarismos. Por exemplo, para indicar numericamente trinta e cinco mil, a forma correcta é 35 000 e não 35.000. Nos números de quatro algarismos, não se faz separação (estamos no ano 2013 e nunca em 2 013).
Para saber mais
Guilherme de Almeida — Sistema Internacional de Unidades (SI), Grandezas e Unidades Físicas, Terminologia, Símbolos e Recomendações, 3.ª edição, Plátano Editora, Lisboa, 2002 (RECOMENDADO PELA SOCIEDADE PORTUGUESA DE FÍSICA). Ver http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/418
Instituto Português da Qualidade (IPQ)—Normas Portuguesas: NP-9 (Escrita dos números); NP-18 (Nomenclatura dos grandes números);
LINKS úteis:
Legenda tabela: Nomes dos grandes números em diversos países europeus
Texto e Figuras de Guilherme de Almeida
© 2013 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
Guilherme de Almeida
Guilherme de Almeida (n. 1950) é licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária. Proferiu mais de 80 de palestras sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, publicou mais de 90 artigos e é formador certificado nestas matérias. Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação. É autor de oito livros sobre Astronomia, observações astronómicas e Física. Algumas das suas obras também estão publicadas em inglês, castelhano e catalão. Mais informação em http://www.wook.pt/authors/detail/id/5235
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