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Aldo Leopold: o poeta da ecologia

04 Set 2013 - 10h22 - 4.483 caracteres

Há cinco anos as Edições Sempre-em-Pé publicaram entre nós uma obra que há muito faltava em língua portuguesa.

Trata-se da memorável obra de Aldo Leopold que tem como título original "A Sand County Almanac", escrito em 1948 e publicada originalmente em 1949. A editora começa logo por, de uma forma clara e sustentada, justificar a escolha do título português desta primeira tradução na nossa língua, seis décadas depois da primeira edição.
Ora "Pensar Como Uma Montanha", referem os editores, foi uma expressão usada pelo próprio Aldo Leopold. Uma expressão que "aponta para a necessidade de superar o ponto de vista estreitamente antropocêntrico e de ter sempre em conta o longo e longuíssimo prazo, se se quer evitar a destruição acelerada da natureza e da humanidade com ela".
Nesta obra pioneira do pensamento ecologista há estações do ano que podem ser "escutadas" pelo leitor. Há Janeiro e o degelo, há Fevereiro e o "bom carvalho" e há principalmente uma prosa que sussurra, que contagia, que inebria até ao fim das 207 páginas da tradução portuguesa.
Cada frase, cada pensamento é poesia real, de onde o humor inteligente não está ausente. Senão vejamos: "Há dois perigos em não possuir uma quinta. Um é o perigo de supor que o pequeno-almoço vem da mercearia, e o outro que o calor vem da caldeira. Para evitar o primeiro perigo, deve-se cultivar uma horta, de preferência onde não existam mercearias para não baralhar a questão."
Entre os muitos conceitos apresentados, rebatidos e defendidos está o conceito de riqueza.
"Cinquenta hectares, de acordo com o funcionário da Conservatória Predial, é a extensão do meu domínio neste mundo." Aldo Leopold lança também alguns avisos sábios: "...nós abusamos a terra porque a vemos como um bem que nos pertence. Quando vemos a terra como uma comunidade à qual pertencemos, podemos começar a usá-la com amor e respeito".
Este pensar "Como Uma Montanha" leva o leitor - que aqui é mais "ouvinte" - a penetrar nos ecossistemas selvagens e na sustentabilidade tantas vezes enunciada por muita gente de estudos, mas tão poucas vezes levada a sério no terreno.
Aldo Leopold nasceu em 1887, em Burlington, no Iowa, Estados Unidos. Apaixonou-se desde cedo pelo ambiente selvagem e pelos seus habitantes. Fê-lo de uma forma diferente de todas as outras crianças até hoje. Aldo foi um adolescente que via na floresta, em toda a floresta, a única via... a única vida. E a sua vida transformou-o num homem de uma afabilidade e sensibilidade muito particulares.
Aldo Leopold foi um pioneiro, um poeta e um dedicado formador, pedagogo e amante dos estudos florestais, que em 1909 se diplomou na escola superior de ciências florestais de Yale. Foi nesse mesmo ano que entrou para o Serviço Florestal dos Estados Unidos, criado apenas 4 anos antes.
Aldo Leopold quis observar tudo de perto, parar para pensar, pensar alternativas, imaginar coisas novas, e os seus pensamentos e teses ainda hoje estão pejados de actualidade.
É verde este livro, muito verde. Cheira a verde. Ouve-se o ruído de ramagens nas suas páginas. Ouvem-se estórias encantatórias de uma descrição minuciosa e contagiante.
As abordagens são diversas - a vida selvagem na cultura americana, as migrações da muita avifauna descrita, a vida de uma árvore contada de uma forma verdadeiramente apaixonante - mas o que Aldo Leopold se propõe acima de tudo é fazer pensar. Consegue-o de facto de uma forma sublime, única.
Se há livros que se lêem num piscar de olhos, este é um deles.
A crítica mundial aplaudiu muito esta visão do mundo, da ecologia e a relação directa com o homem, peça integrante do todo selvagem.
O conhecido ecologista William Vogt, por exemplo, diz em resumo: "Podemos dizer com segurança que este livro será lido décadas a fio, e provavelmente durante séculos.”
Que assim seja!


© 2013 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Luis Henrique Pereira

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