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A resposta contra o cancro pode estar na vida que há no mar

03 Fev 2012 - 17h01 - 2.135 caracteres

O cancro, nas suas diversas formas, é uma doença que aflige a humanidade e daí ser premente enveredar esforços na busca de uma solução. Ainda não há uma cura à vista, até porque todo o processo desde a investigação inicial até ao medicamento final demora anos. É, pois, um processo moroso. Além disso, a investigação científica desenvolve-se através do trabalho entre equipas de diferentes áreas, neste caso a medicina e a biologia.

Desde que os cientistas se dedicaram a estudar os nudibrânquios, uns moluscos gastrópodes marinhos com as brânquias expostas, que se interessaram pelo padrão colorido do seu corpo. É que os nudibrânquios não apresentam concha e é aí que as cores vivas funcionam como mecanismo de defesa alternativo: avisam os predadores de que poderão ser tóxicos, afugentando-os. Com isto em mente, os cientistas quiseram saber quais seriam as substâncias responsáveis por essa toxicidade e procuraram identificá-las, e, posteriormente, descobrir qual a sua função. Os resultados demonstraram que estas moléculas possuíam propriedades anti-tumorais.

No entanto, a quantidade de moléculas obtidas destes seres é muito pequena, pelo que é necessário sacrificar imensos nudibrânquios para retirar um pouco desta substância. O que a equipa de cientistas portugueses do Instituto Português de Malacologia (IPM), localizada em Albufeira, no Algarve, decidiu fazer foi desenvolver a tecnologia necessária para reproduzir estes animais em condições laboratoriais, de modo a preservar as populações no meio natural. Assim, já foi possível obter substância suficiente para enviar a outras equipas que colaboram no estrangeiro para sintetizarem as moléculas em laboratório. Deste modo, é possível obter o princípio activo sem recorrer aos animais. Com este projecto, o biólogo Gonçalo Calado foi distinguido com o prémio Milénio Sagres/Expresso 2002.

Outro facto interessante, é que alguns destes nudibrânquios fazem parte da fauna portuguesa e podem ser encontrados na costa portuguesa. Eis mais uma razão pela qual é importante preservar os recursos biológicos que nos rodeiam, a Biodiversidade: não apenas porque disso depende a nossa alimentação, a nossa economia, mas também a nossa saúde.

 João Lourenço Monteiro


© 2012 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


João Lourenço Monteiro

Biólogo com mestrado em Biologia do Desenvolvimento, aluno de doutoramento em História e Filosofia da Ciência. Atualmente é comunicador de ciência no CIBIO-InBIO da Universidade do Porto.


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