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Golfinhos do Tejo: realidade, imaginário ou mito?

24 Jan 2013 - 11h24 - 3.844 caracteres

Os mitos surgem de fragmentos de eventos reais que aconteceram ou como resultado da imaginação local que se torna, por vezes, em imaginação coletiva. Golfinhos no Tejo? Perguntamos. Eles andam por aí, mas se a sua presença regular, eventualmente com características de residência, foi, e é ainda, uma realidade, não sabemos dizer.

Historicamente existem referências à presença de golfinhos no estuário do Tejo dizendo-se, até, que aí existia uma população residente. Nos tempos mais recentes, são vários os relatos que indicam a possibilidade de os golfinhos estarem a voltar ao estuário do Tejo. Mas há que lembrar que, hoje em dia, as pessoas são mais atentas, a comunicação social mais interessada e os relatos globalizam-se à velocidade da luz. No entanto, no fim do século XIX, num tempo de parcas palavras e ainda menos zoólogos, como seria a realidade biológica do Tejo em termos da presença destes mamíferos marinhos?

Não existindo qualquer tipo de trabalhos sobre a ocorrência de golfinhos no interior do estuário do Tejo, e para tentar responder a esta pergunta, tantas vezes debatida, a Escola de Mar, em conjunto com o Centro de Oceanografia, e os Municípios de Cascais e de Almada, deu início ao projeto de investigação “Golfinhos do Tejo”. Realizado entre a região centro da costa continental (entre o Cabo da Roca e o Cabo Espichel, com particular foco no estuário do Tejo), tem como principais objetivos a obtenção de informação relevante sobre a presença de várias espécies de golfinhos no Tejo e a evolução da qualidade do ecossistema estuarino, num contexto espacio-temporal alargado, pretendendo-se também promover a sensibilidade ambiental sobre a conservação do meio estuarino e marinho.

Para além das campanhas de investigação previstas para a área de estudo, está agora a ser realizada uma pesquisa em várias fontes históricas para estabelecer uma cronologia das ocorrências. Depois de consultadas várias publicações antigas, foi encontrada uma única referência histórica a cetáceos no Tejo, referente a um arrojamento de uma baleia comum no século XVIII, no jornal Gazeta de Lisboa Ocidental (1723). Alguns naturalistas, como Augusto Nobre (1935), relatam a existência de cetáceos no rio Tejo no início do século XX, mas não referem a presença de populações residentes nesta região, ao contrário do que fizeram para o estuário do Sado. Em jornais atuais, nos blogues e redes sociais, existem também relatos de vários avistamentos de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus) e golfinhos-comuns (Delphinus delphis), pelo menos desde 1995 até 2013, em Cascais, Santo Amaro de Oeiras e também em Porto Brandão e Vila Franca de Xira.

É, portanto, uma realidade que os golfinhos, hoje em dia, entram no estuário do Tejo. Mas falta perceber se estes indivíduos estão a retomar hábitos de ocupação de uma antiga área de residência ou simplesmente são visitantes ocasionais de uma zona, agora, com melhor qualidade ambiental e maior disponibilidade de presas. Para breve, esperam-se as respostas. Para já mantêm-se a pergunta: Golfinhos do Tejo: realidade, imaginário ou mito?

Cristina Brito, Vera Jordão, Lese Costa e Inês Carvalho


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Cristina Brito

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