40 anos de ciência em democracia
Por: António Piedade
Comemorados os 40 anos do 25 de Abril, importa fazer um breve balanço da evolução da ciência em Portugal durante estas quatro décadas de democracia.
A história mostra que a ciência sempre evoluiu mais intensamente em sociedades livres e democráticas e isso mesmo aconteceu também entre nós. Vejamos alguns factos.
Com a implementação da democracia a 25 de Abril 1974 e com a entrada de Portugal na CEE (actual União Europeia) a 1 de Janeiro de 1986, viram-se reunidas condições para um desenvolvimento extraordinário, e sem precedentes, da ciência entre nós. A isso não é alheia a transferência para Portugal de consideráveis fundos europeus que foram usados para apoiar um crescente número de investigadores e edificar infraestruturas para a produção científica.
Neste contexto, é incontornável a criação em 1995 do Ministério da Ciência e Tecnologia e em 1996 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Com um ministério para a ciência e com uma entidade, a FCT, para atribuir e coordenar o apoio para a investigação científica, o país assistiu a um aumento exponencial no número de cientistas a investigar em instituições portuguesas. Pode dizer-se que há mais cientistas portugueses nestes últimos 40 anos do que em toda a história de Portugal.
Verificou-se também uma grande internacionalização. Exemplo disso foi a adesão de Portugal a vários organismos científicos internacionais como o CERN - Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, a ESA - Agência Espacial Europeia e o ESO - Observatório Europeu do Sul.
Para acolher o número crescente de investigadores, que não conseguiam ser absorvidos pelas Universidades, foram criados vários Laboratórios Associados de excelência. O primeiro foi o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNCUC), a que se seguiram outros, como o Instituto de Patologia e de Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) – que está agora a fazer 25 anos.
Essas instituições cresceram rapidamente e conquistaram uma forte referência internacional nas suas áreas de especialidade.
Há ainda a referir o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), centrado na área da biologia, que remonta aos anos 60, mas que também muito evoluiu com a democracia e a criação, em 2010, de um outro centro de investigação na área da biomedicina, com dimensão internacional, apoiado pela Fundação Champalimaud.
Mostremos alguns indicadores da evolução de se fala. O investimento em investigação e desenvolvimento cresceu de 0,3% no início dos anos de 1980, para 1,5% em 2012 (dados da PORDATA - http://www.pordata.pt/ - base de dados de Portugal contemporâneo da responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos).
Em 1981 doutoraram-se 110 pessoas, sendo que em 2012 esse número aumentou cerca de vinte vezes para 2209. O número de publicações científicas em revistas indexadas, que foi de 3,9 por cem mil habitantes no ano de 1982 passou para 156,7 por cem mil habitantes em 2012, cerca de 40 vezes mais!
A cultura científica também se democratizou. A editora Gradiva, com a colecção Ciência Aberta criada no princípio dos anos 80, tem feito um trabalho de divulgação científica através do livro, tendo publicado mais de 200 títulos.
Com a democracia, os órgãos de comunicação social começaram a dedicar espaço à Ciência como nunca o tinham feito antes.
A Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, criada em Julho de 1996, tem promovido a cultura científica junto dos cidadãos através da criação e apoio a vários centros ciência viva espalhados por todo o território nacional.
Em resumo, a ciência evoluiu em Portugal como poucas outras áreas da nossa sociedade. Apesar disso, ainda não atingimos valores da média europeia pelo que é muito importante não se diminuírem os apoios à ciência. Não devemos dar-nos ao luxo de perder o que conseguimos nestes 40 anos. É que o conhecimento é a nossa maior riqueza.
António Piedade
© 2014 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
António Piedade
António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.
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