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Vem aí a Lua das colheitas

01 Set 2014 - 12h38 - 4.635 caracteres

A Lua das colheitas é a Lua-cheia mais próxima de 22 ou 23 de Setembro de cada ano, data do equinócio de Setembro, que marca o começo do Outono no Hemisfério Norte. Mas o que é que a coincidência da Lua-cheia com o início do Outono tem assim de tão especial? Que espectáculo oferecerá?

Em cada noite, a Lua nasce aproximadamente 50 minutos mais tarde do que na noite anterior. No entanto, próximo do equinócio de Outono, esta diferença reduz-se apenas a cerca de 30 minutos e essa proximidade horária persiste por várias noites sucessivas, em torno da data desta Lua-cheia. A justificação para isto é que, nesta época do ano, o plano orbital da Lua (quase coincidente com a eclíptica) apresenta a inclinação mínima em relação ao horizonte leste. Tal inclinação é bastante menor do que nas restantes partes do ano Por isso, a Lua, nesta época, move-se (em relação às estrelas) menos para leste do que é habitual e nasce apreciavelmente mais a norte, de noite para noite, o que a faz nascer na noite seguinte mais cedo do que se esperaria (Veja-se a figura esquemática). Aparentemente isto não tem nada de especial, mas para quem observa habitualmente o céu, como os antigos agricultores, produz uma diferença enorme. Na época da Lua das colheitas, durante várias noites consecutivas antes e depois da data da sua fase cheia, a Lua (cheia ou quase cheia) nasce quase à mesma hora, ao anoitecer.

Vários produtos agrícolas amadurecem sucessivamente entre os últimos tempos de Verão e o início do Outono, obrigando a uma sequência cansativa de colheitas. Antes de existirem tractores e lâmpadas eléctricas, os agricultores tinham uma vida esgotante e precisavam de continuar a trabalhar após o pôr do Sol para completar as colheitas a tempo. A Natureza é muito cooperativa  em torno da data do equinócio de Setembro, oferecendo a Lua das Colheitas, evitando um período de escuridão entre o pôr do Sol e o nascer da Lua em várias noites sucessivas. Quando a luz do Sol esmorecia, a oeste, a Lua nascia logo, a leste, iluminando pela noite fora os campos pujantes de vida. É isso que torna a Lua das Colheitas tão especial e quase mágica.

Mas o espectáculo tem mais encantos. A Lua junto ao horizonte aparece avermelhada devido à dispersão da luz nas poeiras e fumos, na longa travessia oblíqua através da atmosfera terrestre. E junto ao horizonte a Lua parece muito maior, de um tamanho extraordinário, devido ao efeito da ilusão da Lua.

Esta visão fascinante, ao longo de várias noites, repete-se todos os anos próximo da data do equinócio outonal. Depois de ter sido uma bênção para os agricultores de há mais de 100 anos, a Lua das Colheitas é ainda hoje um belo espectáculo celebrando o início do Outono no Hemisfério Norte. Como vai ser desta vez?

Em 2014, próximo da época favorável, a Lua estará cheia a 9 de Setembro e a 8 de Outubro, sendo a primeira data mais próxima do dia do equinócio outonal, com a Lua na constelação dos Peixes, passando nas noites seguintes pelo Carneiro, Touro e Gémeos. Para melhor desfrutar da continuidade do fenómeno, e da sua particularidade, assista sucessivamente ao nascer da Lua em algumas noites sucessivas a partir de 8 de Setembro.

 

 

Texto e ilustrações de Guilherme de Almeida

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

 

Para mais informação

 

http://ciencia.nasa.gov/ciencias-especiales/16sep_harvestmoon/

http://earthsky.org/space/harvest-moon-2

http://earthsky.org/space/harvest-moon-2#which-night

http://en.wikipedia.org/wiki/Harvest_moon#Harvest_moon

 

Legenda da figura: Comparação do ângulo da eclíptica em relação ao horizonte, no início de cada estação do ano, no nascimento da Lua-cheia. As setas vermelhas estão igualmente espaçadas entre si, nos esquemas do Outono e do Verão. Escreveu-se "leste", em vez de "este", para evitar confusão com o pronome demonstrativo da mesma grafia.

 


© 2014 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida (n. 1950) é licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária. Proferiu mais de 80 de palestras sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, publicou mais de 90 artigos e é formador certificado nestas matérias. Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação. É autor de oito livros sobre Astronomia, observações astronómicas e Física. Algumas das suas obras também estão publicadas em inglês, castelhano e catalão. Mais informação em  http://www.wook.pt/authors/detail/id/5235 


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