Quantas espécies existem na Antártida?
Para compreender os efeitos das alterações climáticas nos animais do nosso planeta é necessário saber informações como quantas espécies existem, qual é a sua abundância e como estão distribuídas. Esta informação é de fundamental importância para a monitorização da biodiversidade, descobrir áreas de grande biodiversidade (hotspots), definir eco-regiões e ajudar-nos a detetar o impacto de mudanças ambientais no planeta. Sabendo que partes da Antártida estão a aquecer mais do que qualquer outra parte do planeta, esta tarefa torna-se mais urgente.
Nestes últimos 4 anos, um esforço internacional e multidisciplinar de 147 cientistas de 22 países (incluindo Portugal) produziram este atlas biogeográfico do Oceano Antártico, reunindo a mais recente informação de mais de 9000 espécies, desde algas, às lulas, do peixe às baleias, pinguins e focas. O objetivo era claro: fornecer conhecimento sobre a biodiversidade e biogeografia do Oceano Antártico para satisfazer as necessidades da ciência, conservação, monitorização e avaliação sustentável do Oceano Antártico.
Descobriu-se que a região Antártica é mais surpreendentemente rica em espécies do que se julgava anteriormente. Mais, ajudou-nos a explicar a origem de muitas espécies, através de técnicas moleculares. Por exemplo, foi a partir da Antártida que os polvos que existiram há 30 milhões de anos começaram a se expandir para norte e a colonizar novas partes dos Oceanos do nosso planeta. No caso das lulas, foram identificadas 19 espécies que conhecemos atualmente distribuídas em águas do Oceano Antártico. Interessante notar espécies tipicamente distribuídas em águas junto ao continente e outras que se distribuem em águas oceânicas, evidenciando como cada espécie possui o seu próprio habitat preferido. No entanto, sabemos que mais espécies existem. Através das dietas de predadores de topo da região Antártica, como os pinguins, focas e albatrozes, encontramos lulas que nunca foram apanhadas por uma rede de pesca e em bom estado para a caracterizar (e definir uma nova espécie). O futuro vai certamente passar por desenvolver novos métodos de captura de lulas, desenvolver modelos para estimar a distribuição de lulas no Oceano Antártico (principalmente quando afectadas pelas futuras alterações climáticas) e estabelecer medidas de conservação antes que se inicie uma pesca dirigida a estes organismos. Além das lulas, foi notório que existe ainda muito por estudar na Antártida. Para conservar o que existe é preciso necessário saber. Este livro foi um passo gigante nesse sentido e é uma leitura obrigatória para alguém interessado nos animais que vivem na parte mais fria do planeta!
José Xavier
Referência:
Rodhouse, P. G., H. Griffiths & Xavier, J. C. (2014). Southern Ocean squid. In De Broyer C., Koubbi P., Griffiths H.J., Raymond B., Udekem d’Acoz C. d’, Van de Putte A.P., Danis B., David B., Grant S., Gutt J., Held C., Hosie G., Huettmann F., Post A., Ropert-Coudert Y. (eds.). Biogeographic Atlas of the Southern Ocean. Scientific Committee on Antarctic Research, Cambridge: 284-289
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José Xavier
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