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Animais estranhos e exóticos, eles andam por aí

03 Mar 2015 - 15h49 - 4.012 caracteres

Perdidos no tempo, os animais exóticos, aqueles espécimenes raros vindos de longe, ainda andam por aí. O início deste ano foi profícuo para o estudo dos antigos e exóticos animais - os da terra, do ar e também do mar - que começaram a chegar a Portugal e à Europa desde o início da época moderna. Terminou esta semana um colóquio sobre esta temática, que decorreu na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa organizado pela Escola de Mar e com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, do CHAM e da APCM, e que reuniu especialistas nacionais e internacionais – biólogos, historiadores, arqueólogos. Neste evento foi possível apresentar e debater as novidades naturais que vinham do além-mar desde o século XV e o conhecimento que, através destas, foi sendo adquirido para a história natural europeia. Aqui juntaram-se umas cinco dezenas de pessoas à volta deste tema tão único como os seus objetos de estudo - macacos que eram trazidos de África e do Brasil e comprados como animais de estimação, papagaios coloridos que falavam, perus trazidos para a Europa e introduzidos na alimentação corrente, e toda uma panóplia de monstros marinhos que não passavam de grandes baleias, focas ou manatins. Animais que hoje fazem parte do nosso dia a dia eram, na altura, verdadeiras excentricidades naturais que apenas a partir do século XVI começaram a ser descritos e ilustrados em tratados de história natural, em folhetos avulsos e a fazer parte das coleções dos nobres e das conversas do povo. Todo o conhecimento que começou a ser recolhido e produzido pelos naturalistas pré-modernos ganhou corpo na Europa e permitiu o início de uma mudança na forma de estudar a natureza tendo por base a observação empírica e analítica dos seus vários elementos. Assim, foi neste período e tendo também por base os seres vivos exóticos que se estruturaram as bases para o estabelecimento da história natural e o futuro desenvolvimento da zoologia.

Para todos aqueles, para além dos investigadores e estudantes, que se interessam por animais estranhos e pouco conhecidos, há ainda uma oportunidade que não deve ser desperdiçada. Até ao fim do mês de março, apenas aos sábados pelas 16h00, abrem-se ao público as portas da Galeria de Zoologia do Museu da Ciência de Coimbra. Aqui é possível fazer uma visita guiada, ela própria única, que permite uma viagem pela história da museologia e da zoologia. Neste espaço existem monstros de vários tipos, ossadas de baleias, dentes de unicórnio, manatins, e uma série de animais que nos transportam para o tempo em que os naturalistas recolhiam estes elementos da fauna e os traziam para os seus gabinetes de curiosidades, futuros museus. Num ambiente de silêncio e de (quase) segredo encontramos uma coleção zoológica preciosa que nos mostra o impressionante peso do tempo, que nos ilumina a alma e o espírito, que nos faz voar para outros mundos e nos merece o respeito de séculos de trabalho e de dedicação. Aqui as nossas passadas no soalho de madeira polida são ecos das memórias que nos chegam do passado, são sombras dos animais curiosos e exóticos de ontem mas também de hoje.

 

Cristina Brito.

 

Mais informação em:

http://www.escolademar.pt/internationalcolloquiumexoticanimals2015/

http://www.museudaciencia.org/

 

Legenda foto: Manatim em exibição na Galeria de Zoologia do Museu da Ciência de Coimbra. Fotografia de Sofia Quaresma, 2015.


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Cristina Brito

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