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Os grandes desafios do planeta: A Antártida estará em risco no futuro?

21 Abr 2015 - 10h48 - 3.950 caracteres
Género: Artigos. Áreas: Ambiente, Biologia
Por: José Xavier

São más notícias para a Antártida. No futuro, devido às alterações climáticas, a acidificação do Oceano Antártico poderá tornar-se num dos maiores problemas para os organismos marinhos que lá vivem.

Numa definição simples, acidificação dos oceanos deve-se ao dióxido de carbono, que se encontra no ar, se dissolver-se na água, tornando-a mais ácida. As regiões polares, e particularmente a Antártida, são consideradas como áreas que mias observem o dióxido de carbono. Mais, sendo a Antártida uma das regiões do planeta que tem mostrado sinais de mudanças ambientais bastante rápidas e profundas, um grupo de 11 cientistas, de 9 países (Alemanha, Argentina, Canadá, Espanha, Estados Unidos da América; França, Nova Zelândia, Reino Unido e Portugal), desenvolveu um estudo para avaliar e quantificar essas mudanças pela primeira vez. Os resultados, publicados na prestigiada revista científica Global Change Biology, mostram que grande parte do Oceano Antártico vai ser afetada por processos associados às alterações climáticas, e que essas áreas vão ser maiores do que as observadas no passado.

A pesquisa revela também que, no futuro, os fatores ambientais que causam Stress ao ecossistema marinho do Oceano Antártico poderão chegar a 86% de todo o Oceano Antártico. Este foi o primeiro estudo a quantificar os múltiplos factores ambientais que afetam o Oceano Antártico como um todo, e quais as áreas que poderão ser mais afetadas no futuro. As regiões costeiras junto ao continente, e particularmente a Península Antártica, vão ser as regiões mais afetadas por estes múltiplos stresses ambientais (como por exemplo: degelo, aumento da temperatura, diminuição do gelo marinho), alertando-nos para onde deveremos focar os nossos estudos científicos futuros. O nosso maior desafio futuro será avaliar os efeitos destes fatores ambientais na vida dos animais, e em toda a cadeia alimentar, que vivem no Oceano Antártico e qual a severidade desses fatores nas diferentes regiões deste Oceano. É nisso que se está a trabalhar agora.

Esta investigação inclui a contribuição da nossa equipa da Universidade de Coimbra, resultado de um esforço nacional de vários anos para realizar investigação internacional e multidisciplinar que possua implicações planetárias.

Nestes últimos anos, a ciência polar teve o apoio vários intervenientes da esfera científica, educacional e política nacional. Aqui, o papel do Prof. Luiz Mendes-Vitor (Presidente do Comité Português para o Ano Polar Internacional) e do Prof. José Mariano Gago (ex-Ministro da Ciência) foi relevante no impulsionar a ciência polar de qualidade. Ambos faleceram neste último ano, que se traduziu numa perda para toda a comunidade científica portuguesa. Recordo-me com um sorriso de ambos conversarem comigo dizendo: “Estão a fazer um bom trabalho...mas existirá ainda muito mais por fazer. Continuarei atento!” Onde quer que estejam, para o bem da ciência em Portugal, espero que sim.

 

Referência do artigo:

Gutt, J., Bertler, N., Bracegirdle, T. J., Buschmann, A., Hosie, G., Isla, E., Schloss, I.,  Smith, C. R. and Xavier, J. C. (2015). The Southern Ocean ecosystem under multiple climate change stresses - an integrated circumpolar assessment. Global Change Biology 21: 1434-1453, DOI: 10.1111/gcb.12794

 

José Xavier


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José Xavier

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