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O Buraco do Ozono interessa?

12 Out 2015 - 12h04 - 4.020 caracteres
Género: Crónicas. Áreas: Ambiente
Por: José Xavier

Quando eu tinha 10 anos, em 1985, Jonathan Shanklin e outros atuais colegas meus do instituto Britânico British Antarctic Survey estavam a descobrir a diminuição da camada do Ozono na Antártida devido aos gases de efeitos de estufa. Essa descoberta foi publicada na prestigiada revista Nature e está a ser celebrada este ano. Mas será que é assim tão importante? Respondo já que é! Aliás, foi essa descoberta que levou a que os governos de todo o mundo tomassem medidas conjuntas sobre o uso dos gases CFC´s (clorofluorcarbonetos, compostos baseados em carbono que contém cloro e flúor), que reduz a camada de Ozono. Estudos deste ano revelaram que se nada tivesse sido feito, teríamos um buraco de Ozono na Antártida 40% maior do que temos hoje e que a camada de Ozono estaria 15% mais fina no resto do mundo.

A camada de Ozono absorve 99% dos raios ultra violeta (UV´s). O buraco do Ozono corresponde à região onde os níveis de Ozono são muito baixos. A sua destruição, aumenta a entrada dos raios UV na atmosfera causando grandes problemas, como cancro da pele. Cada ano, entre 2 e 3 milhões de novos casos de cancro da pele é diagnosticado em todo o mundo. Daí a sua importância.

Os CFC´s foram usados como aerossóis e gases de refrigeração, sendo atualmente proibido o seu uso em vários (muitos) países. É possivelmente um dos bons exemplos de diplomacia ambiental que temos, desde sempre. No último mês de Setembro celebrou-se o 30º Aniversário da convenção de Viena para a proteção da camada de Ozono. Com o Protocolo de Montreal (sobre substâncias que destroem a camada de Ozono), esta convenção reuniu o consenso de 197 nações de todo o mundo para trabalhar conjuntamente para se deixar de usar substâncias que destroem o Ozono (como os CFC´s), e assim proteger a camada de Ozono para esta e futuras gerações. Kofi Annan, sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, considerou este protocolo como “possivelmente o mais bem sucedido acordo internacional de todos os tempos.”

E o buraco de Ozono ainda existe? Sim, na Antártida o buraco do Ozono aparece no inicio da Primavera Austral (Setembro-Outubro), e está previsto para continuar a aparecer por muitas mais décadas. Daí que sempre que vou numa expedição à Antártida, o uso de protetor solar é tão importante. O buraco de Ozono também pode aparecer no Ártico, mas é normalmente num período muito mais reduzido, e cobrindo uma área muito menor, do que na Antártida.

E tudo está feito? não, nem tudo está feito. A ameaça à camada do ozono voltou à agenda ambiental mundial recentemente, sendo necessário reforçar o esforço internacional, que restrinja a produção e a utilização de produtos químicos que cause danos à camada de Ozono, que proteja a Terra das irradiações ultravioletas do Sol. É necessário assegurar a proteção do não uso dos CFC´s (ou de outros gases nocivos à camada de Ozono), da monitorização de Ozono e manter a atenção dos decisores políticos para todos os restantes desafios associados à proteção da camada de Ozono.

Conclusão: O que fizemos para retificar a Camada de Ozono como Humanidade foi um exemplo, e estamos no bom caminho, mas não se esqueça do protetor solar no próximo Verão pois ainda existe muito trabalho a fazer!

 

José Xavier


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José Xavier

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