Qual o albatroz mais especial do mundo?
Das aves marinhas, os albatrozes são das maiores do mundo, com asas tão grandes que podem passar horas sem as bater uma única vez. São animais fantásticos que evoluíram para viver quase toda a sua vida no mar, vindo só a terra para se reproduzir. Nesta nossa parte do planeta, no Atlântico norte, não existem albatrozes. Eles vivem no Atlântico sul, reproduzindo-se em ilhas do sub-Antártico e do Antártico, como as Ilhas Malvinas/Falkland ou da Geórgia do Sul. Trabalhar com albatrozes na Antártida continua a ser um privilégio enorme. São lindos e com personalidades muito diversas: existem os indivíduos mais alegres, outros simpáticos, os mal-dispostos e até os sorridentes. Podem imaginar como fico muito triste quando deixo a Antártida, pois sei que nunca mais vou ver um albatroz até voltar à Antártida. Ou será que não?
Aquando a uma viagem à Alemanha, tive a oportunidade de viver na bonita ilha alemã de Helgoland. Esta pequena ilha fica no Mar do Norte, a norte da Alemanha, onde é a casa de numerosas e simpáticas focas cinzentas e de poucas centenas de pessoas. Aquando da minha chegada, relembro-me levemente do nome desta ilha mas não me recordava porquê. Quando vi uma fotografia de um albatroz de cabeça cinzenta numa loja, deu-se o click. Será que era aqui onde um albatroz de sobrancelha preta apareceu recentemente?
Dos muitos milhares de albatrozes de sobrancelha preta no mundo, existe um que vive no Atlântico norte (sim, um!). Julga-se que este albatroz desviou-se da sua rota há 40 anos atrás dos seus amigos, e suspeita-se que este albatroz terá cerca de 50 anos de idade hoje. Ele foi visto antes só muito raramente, em colónias de outras aves marinhas na Escócia, nas Ilhas Faroé, nas costas de Inglaterra e nas Bahamas. Será que ele esteve aqui? Sim, imaginem a minha felicidade de saber que, em 2014 e em 2015, este simpático albatroz de sobrancelha preta foi visto em Helgoland. E sim, esta semana foi visto novamente aqui na bela ilha de Helgoland (Abril 2016)!!! Adivinhem que até lhe deram um nome: Alberto! Ele costuma estar em companhia de gansos patola, aparecendo nas suas colónias...e como existe uma colónia de gansos patola em Helgoland, parece que gostou destes amigos. Nesta semana nunca tinha visto tantos fotógrafos (com as suas típicas máquinas com lentes gigantes), todos para ver o Alberto. Dizem que dá para estar bem pertinho dele, pois ele costuma ficar mesmo em cima do monte, permitindo tirar fotografias bem pertinho sem o perturbar.
Estamos perante um albatroz super-star. Eu ainda não o vi pessoalmente (apesar de ir correr até às colónias dos gansos patola à sua procura todas as manhãs bem cedinho)...mas só de saber que está por aqui, fico feliz. Se o Alberto falasse, imagina as grandes histórias que teria para nos contar...mas só por existir, já muito contribuiu para o gosto pela natureza, e particularmente por aves marinhas, a várias gerações de crianças, jovens e adultos que o desejam ver. Só por isso, o Alberto é o albatroz mais especial do mundo.
José Xavier
© 2016 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
José Xavier
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