Investigadores portugueses redefinem função de neurónios ligados à motivação
Uma equipa da Universidade do Minho provou pela primeira vez que a classe de neurónios D2 pode estar ligada aos estímulos positivos do prazer e da motivação. O resultado, publicado na reputada revista “Nature Communications”, ajuda a perceber melhor o sistema de recompensa, essencial na sobrevivência das espécies, e que falha em doenças como a depressão, o défice de atenção e a adição de substâncias. O estudo foi coordenado por Ana João Rodrigues e Nuno Sousa, no ICVS – Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da UMinho, em Braga.
A perceção de prazer é importante para a sobrevivência, pois permite esforçarmo-nos pelo que necessitamos e desejamos. Comer o prato preferido, ouvir certa música, fazer sexo são situações que ativam o circuito cerebral chamado sistema de recompensa. Neste circuito destacam-se os neurónios D1 e D2, situados no núcleo accumbens, no interior do cérebro. A comunidade científica associava os D1 ao processamento de estímulos positivos/prazer e os D2 a um papel relevante nos estímulos negativos. Mas a equipa portuguesa provou agora que ambos podem ter funções positivas no comportamento.
Os testes em laboratório envolveram 2 espécies de roedores. Os animais tinham que carregar determinadas vezes numa alavanca para obter um doce (recompensa). Ao longo dos dias tinham que carregar cada vez mais para receberem o mesmo. Provou-se que quanto mais motivado o animal estava na tarefa, mais neurónios D1 e D2 ativava, carregando até 150 vezes por doce. Numa segunda fase, activaram ou inibiram selectivamente estes neurónios durante a tarefa usando um laser (técnica de optogenética). Observou-se que a motivação do animal aumentava drasticamente ao ativar-se tanto os D1 como os D2, levando-o a carregar mais vezes na alavanca. Por outro lado, a inibição dos neurónios D2 diminuía a sua motivação.
“Os resultados foram surpreendentes, pois mostraram que ambas as populações neuronais têm um papel pró-motivação, contrariamente ao que a tinha vindo a ser proposto”, explicam Ana João Rodrigues e Nuno Sousa. Este estudo “é importante para compreender melhor como funciona o sistema de recompensa, que está disfuncional em patologias como a depressão e a adição”, e pode abrir caminho para terapias direcionadas na eventual ativação daqueles neurónios. A equipa de trabalho do ICVS incluiu ainda Carina Cunha, Bárbara Coimbra, Ana David Pereira, Sónia Borges, Luísa Pinto e Patrício Costa.
Link para o Artigo: www.nature.com/ncomms/2016/160623/ncomms11829/full/ncomms11829.html
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