Registo | Contactos

Memória da lebre que veio do frio

03 Fev 2012 - 12h38 - 1.792 caracteres

Temos vindo a mudar ao longo de milhões de anos. Mudar para nos adaptarmos ao meio, mudar para sobrevivermos.

Há vários fatores que influenciam estas adaptações, tais como o tipo de alimentação a que se tem acesso ou as alterações climáticas, prevalecendo algumas das “heranças” adaptativas durante milhares de anos.

No caso particular das lebres ibéricas do norte de Portugal, as diferenças de temperatura entre eras glaciares promoveram o contacto com uma outra espécie de lebre, a ártica que, descendo até território português, passou a ocupar o mesmo espaço que a lebre ibérica, promovendo o cruzamento das duas espécies.

Apesar de não se encontrarem evidências (fósseis, entre outras) da persença da lebre ártica na Península Ibérica desde a última época glaciar (que terminou há cerca de 10 000 anos), populações de lebres ibéricas do norte do nosso país apresentam, ainda hoje, diferenciações genéticas relativamente a outras populações da mesma espécie por integrarem no material genético estruturas provenientes da lebre ártica, neste caso as mitocôndrias, estruturas intracelulares que funcionam como “fábricas de energia” para as células.

Investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), Paulo Célio Alves José Melo-Ferreira e Hélder Freitas, detetaram fortes indícios que conduziram a este facto pela análise de variações nos genes contidos no cromossoma (circular) das mitocôndrias (apenas transmissível por via materna). Posteriormente confirmaram os seus resultados por meio da análise de outros indicadores. Os resultados encontrados por estes investigadores podem ser consultados num artigo publicado na prestigiada Philosophical Transactions of The Royal Society B (pode ser consultado no seguinte endereço:http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/363/1505/2831.full.pdf).

Resta saber que mecanismo levou à ocorrência deste cruzamento, um problema que está em investigação no CIBIO.

Quem diria que existe um “fóssil vivo” nestes animais? 

 

Susana Pereira


© 2012 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Susana Pereira

Veja outros artigos deste/a autor/a.
Escreva ao autor deste texto

Ficheiros para download Jornais que já efectuaram download deste artigo