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Passado genético da Península Ibérica

15 Mar 2019 - 17h56 - 3.978 caracteres

Uma equipa internacional, que inclui Pedro Soares, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho, publicou esta quinta-feira um estudo inédito na conceituada revista “Science” (http://science.sciencemag.org/content/363/6432/1230) sobre a história genética das populações da Península Ibérica nos últimos 8000 anos. A região ibérica é agora, provavelmente, a mais bem caraterizada do mundo ao nível do ADN humano antigo, ou seja, obtido através de amostras arqueológicas. O trabalho, liderado pela Harvard Medical School (EUA) e pelo Instituto de Biologia Evolutiva (Espanha), tem ainda, entre os 111 autores, cientistas de Alemanha, Reino Unido, Portugal e Espanha.

 O artigo contextualiza como a comunidade ibérica mudou de caçadora-recoletora até aos dias de hoje, incluindo o fluxo genético correspondente à chegada da agricultura há 7500 anos e as trocas genéticas com o Norte de África desde há 4000 anos. Porém, o facto mais relevante foi a deteção do forte fluxo migratório no início da Idade do Bronze (há 4500 anos) a partir das estepes russas e ucranianas. “O padrão destes migrantes representava na altura cerca de 40% do perfil genético da Ibéria e praticamente 100% das linhagens masculinas do território. Isso sugere que aqueles migrantes eram sobretudo do sexo masculino e, de algum modo, substituíram os homens locais”, explica Pedro Soares num comunicado da Universidade do Minho.

Ao todo, foram analisados 403 genomas antigos de habitantes que viveram na Península Ibérica há entre 6000 a.C. e 1600 d.C., dos quais 271 nunca tinham sido publicados até agora. Foram ainda estudados genomas de 975 esqueletos antigos de indivíduos de fora da Península Ibérica e de 2900 pessoas actuais. Relativamente às amostras portuguesas, foram estudadas 37 do Neolítico, Idade do Cobre e Idade do Bronze, sendo que 16 delas nunca tinham sido publicadas.

 Por exemplo, foi encontrado um casal adulto da época (na imagem), sepultado em Castillejo de Bonete, no centro de Espanha, tendo as análises genéticas provado que a ancestralidade daquela mulher era local e a daquele homem era da Europa Central. “É um caso extraordinário de migração diferencial de sexos e mostra uma origem única das linhagens masculinas”, vinca Pedro Soares no já referido comunicado. Na prática, as comunidades pastoris e domesticadoras de cavalos das estepes russas migraram para Oeste, atingindo a Península Ibérica, e para Este, até ao subcontinente indiano; além de substituírem grande porção da população masculina existente, provavelmente espalharam o indo-europeu, a família linguística hoje falada ao longo da Europa e Índia, nota o investigador do CBMA e do Instituto para a Bio-Sustentabilidade da Universidade do Minho.

 No estudo da “Science”, a Universidade do Minho teve, entre outros aspetos, um papel relevante na análise de ADN antigo de Portugal, numa parceria com a Universidade de Huddersfield (Reino Unido), que tem um sofisticado laboratório de arqueogenética e onde também investiga a portuguesa Marina Silva, coorientada por Pedro Soares. Este cientista já tinha proposto na revista “BMC Evolutionary Biology” um modelo genético evolutivo semelhante para a Índia, em 2017, que gerou polémica local e internacional, ao questionar um tema-chave da História daquele país.

 

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