José Bonifácio: cientista e humanista (I)
Por: João Lourenço Monteiro
Do Brasil à Universidade de Coimbra: os primeiros anos.
José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em São Paulo, no Brasil em 1763, tendo sido neste país que iniciou os seus estudos: em 1777 frequentou o Seminário Diocesano de S. Paulo, onde teve como mestre o frade franciscano D. Frei Manuel da Ressurreição e, em 1781, prosseguiu os estudos no Rio de Janeiro.
José Bonifácio pertencia a uma família abastada, pelo que os seus pais pretendiam dar-lhe uma boa preparação académica. Como era comum naquela época, as elites brasileiras enviavam os seus filhos para estudarem em Portugal, e foi neste país que Bonifácio se matriculou, em 1784, em Estudos Jurídicos, Matemática e Filosofia Natural na Universidade de Coimbra. Nesta universidade, foi aluno do famoso naturalista italiano Domenico Vandelli (1735-1816), que havia sido convidado por Marquês do Pombal quando este empreendeu a reforma universitária em 1772. Realizou os seus estudos com sucesso, obtendo, em 1787, o título de “Bacharel em Direito” e o de “Bacharel em Filosofia”.
Da Academia das Ciências à Europa
Após terminar a sua formação no ensino superior, mudou-se para a capital onde recebeu o título de “sócio livre” da Academia Real de Ciências de Lisboa. Foi nesta cidade que se casou com a irlandesa D. Narcisa Emília O’Leary (1770-1829), em 1790. No mesmo ano, empreendeu uma “Viagem Filosófica” por vários países da Europa, que iria durar cerca de dez anos, com o intuito de se especializar nas áreas de Mineralogia, Metalurgia e História Natural. Esta estadia no estrangeiro foi aproveitada de forma intensiva, tendo frequentado novos cursos, conhecido e estudado minas locais, realizando estudos geológicos, e contactando com cientistas de renome internacional.
Regresso a Portugal: entre Porto e Coimbra
Em 1800, perfazendo 37 anos, José Bonifácio regressou a Portugal com uma preparação intelectual fora do comum para a época: para além dos vastos conhecimentos adquiridos no estrangeiro em mineração e metalurgia, e do grau de Doutor que obteve pela Faculdade de Direito e pela Faculdade de Filosofia de Coimbra, também dominava mais de meia dúzia de idiomas diferentes, qualidades que os responsáveis do Reino entenderam como uma mais-valia para o país. É caso para dizer que o trabalho e dedicação compensaram, uma vez que, de 1801 a 1807, José Bonifácio ficou responsável por diversos cargos importantes: adquiriu a cátedra de Metalurgia na Universidade de Coimbra; tornou-se Intendente-Geral das minas, metais e bosques do Reino; dirigiu a exploração de carvão nas minas de S. Pedro da Cova, em Gondomar; foi Desembargador da Relação do Porto; foi superintendente das Obras Públicas de Coimbra e das Obras Hidráulicas do Mondego.
Tudo parecia correr bem na vida de José Bonifácio, até que um evento veio alterar a história do nosso país.
(Continua…)
João Lourenço Monteiro
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João Lourenço Monteiro
Biólogo com mestrado em Biologia do Desenvolvimento, aluno de doutoramento em História e Filosofia da Ciência. Atualmente é comunicador de ciência no CIBIO-InBIO da Universidade do Porto.
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