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A verdadeira história da SARS

17 Out 2012 - 18h12 - 3.215 caracteres

A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, sigla em inglês) nem sequer tinha nome em Fevereiro de 2003 quando atingiu a sua primeira vítima conhecida, Johnny Cheng, em Hanói, no Vietname. Em poucos dias, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniu um grande número de especialistas para combater a doença misteriosa e evitar o cenário de uma pandemia incontrolável a varrer o globo.

A SARS surgiu pela primeira vez na província chinesa de Guangdong. Havia rumores sobre a existência de uma doença virulenta como a pneumonia, mas nada era concreto. As autoridades chinesas haviam começado a trabalhar, mas não tinham resposta eficaz. Dado o seu aparecimento no Vietname, conter a infecção desconhecida era já uma luta inglória. 

 

Acção sem precedentes

Duas semanas após o caso do Vietname, a 13 de Março de 2003, a cidade de Toronto, no Canadá, entrou em alerta depois de uma morte suspeita. A 15 de Março, a OMS respondeu com um aviso à escala mundial, emitindo orientações para os profissionais de saúde: que sintomas procurar, qual a melhor forma de resposta e isolamento dos casos suspeitos. De seguida, a OMS persuadiu laboratórios em todo o mundo a colocarem de lado rivalidades profissionais e a unirem forças para estudarem o agente viral.

 

Seguir o rasto do vírus

Em Hong Kong, uma equipa de acompanhamento da SARS procurou o primeiro doente – o caso índex. Por um golpe de sorte, encontrou-o no nono andar do Hotel Metropole, em Hong Kong, um grande hotel que se tornou no local perfeito para a SARS começar a viajar pelo globo.

 

Salto interespécies

Trabalhando a partir de amostras obtidas em Hong Kong, um processo de correspondência aleatória mostrou que a SARS era uma nova forma de coronavírus, um agente patogénico conhecido por afectar os seres humanos, mas não um assassino global. Normalmente, os vírus de animais não afectam as células humanas, uma vez que as suas constituições são diferentes. Mas podem ocorrer mutações. Com tantas aves e mamíferos em contacto próximo com os seres humanos, a probabilidade de um salto entre espécies aumenta e o comportamento da doença altera-se dramaticamente. A coligação de cientistas promovida pela OMS descobriu que a SARS não sofreu qualquer mutação nos meses seguintes ao seu aparecimento, o que tornou relativamente fácil o desenvolvimento de medicamentos e de uma vacina.

 

Uma batalha que pode ser ganha

O alerta mundial emitido pela OMS funcionou. Exames minuciosos aos viajantes, a funcionários hospitalares e a outros grupos considerados de risco conduziram a uma quarentena eficaz dos possíveis portadores. O Vietname – o país mais pobre a viver a epidemia – foi o primeiro a ser declarado livre de SARS.

 

A dispersão internacional do vírus resultou em 8098 casos de SARS em 26 países, e em 774 mortes, tendo o pico sido atingido entre finais de Março e princípios de Abril de 2003. O maior surto epidémico ocorreu na China continental com 5327 casos e 348 mortes, seguindo-se Hong Kong com 1755 casos e 298 mortes, pertencendo o terceiro lugar a Taiwan, com 647 casos e 84 mortes. Mas a história é positiva. Em comparação com as 1800 pessoas que a gripe sazonal mata anualmente em Portugal, as 774 vítimas de SARS em dois continentes não parece preocupante.

 

Maria João Pratt

 

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 


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