Prémio para o melhor trabalho publicado na área da genética por um jovem investigador em Portugal
A investigadora Ana Ferreira, do Instituto Gulbenkian de Ciência, recebeu o Prémio da Sociedade Portuguesa de Genética Humana 2012, atribuído para o melhor trabalho publicado por um jovem investigador em Portugal.
A Comissão Científica e a Direcção da Sociedade Portuguesa de Genética Humana (SPGH) nomeou o artigo "Sickle hemoglobin confers tolerance to Plasmodium infection", publicado na revista cientifica Cell em Abril de 2011, como o melhor trabalho publicado em 2011, por um jovem investigador, em Portugal. O Prémio SPGH 2012 será atribuído a Ana Ferreira, primeira autora deste trabalho que foi realizado no grupo de “Inflamação”, liderado por Miguel Soares do Instituto Gulbenkian de Ciência, no decorrer do seu pós-doutoramento. A entrega do prémio ocorreu no dia 24 de novembro durante a reunião anual da SPGH.
O trabalho premiado descreve o mecanismo pelo qual a mutação responsável pela anemia falciforme confere protecção contra a malária. A anemia falciforme é uma doença genética, provocada por uma mutação no gene que codifica a hemoglobina, a proteína responsável pelo transporte do oxigénio nos glóbulos vermelhos e que se caracteriza pela forma de foice dos glóbulos vermelhos. Os indivíduos que possuem duas cópias da mutação causadora da anemia falciforme (uma herdada do pai e outra da mãe) têm uma esperança de vida reduzida, sendo, por isso, de esperar que a mutação fosse rara em populações humanas. No entanto, estudos anteriores mostram que esta mutação é muito prevalente nas populações de áreas onde a malária é endémica - entre 10 a 40% da população possui esta mutação. Mais do que isto, indivíduos com apenas uma cópia da mutação, além de não manifestarem sintomas da doença, tornam-se resistentes à malária, o que explicaria a elevada prevalência desta mutação em zonas endémicas para a malária.
Num trabalho árduo e minucioso, a investigadora Ana Ferreira descobriu que a protecção conferida pela hemoglobina falciforme actua sem afectar a capacidade do parasita de infectar os glóbulos vermelhos do hospedeiro. Numa série de experiências envolvendo a manipulação genética de ratinhos, Ana Ferreira conseguiu revelar que o mecanismo molecular responsável pelo efeito protector da hemoglobina falciforme é mediado pela enzima heme oxigenase-1 (HO-1), cuja produção é induzida pela hemoglobina falciforme. A produção do gás monóxido de carbono, provocada pela hemoglobina falciforme, impede que o parasita Plasmodium cause uma reacção no hospedeiro que leve à sua morte, tudo sem interferir com o ciclo de vida do parasita.
Ana Ferreira, que se encontra-se atualmente a desenvolver a sua investigação na Universidade Nova de Lisboa, diz: “É muito importante a atribuição do prémio da SPGH que, mesmo que atribuído a mim, enquanto primeira autora do artigo publicado, resulta do trabalho de uma equipa liderada pelo Miguel Soares e desenvolvido na generalidade no Instituto Gulbenkian de Ciência. Este prémio sublinha o mérito de trabalho que, com o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia, reconhece o contributo de mecanismos de tolerância na progressão de malária cerebral.”
O prémio SPGH 2012 é patrocinado pela empresa Applied Biosystems, e foi entregue durante a reunião anual da Sociedade Portuguesa de Genética Humana, que decorreu entre 22 e 24 de Novembro de 2012 no Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto.
Inês Domingues (IGC)
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
Referência ao artigo
Ana Ferreira, Ivo Marguti, Ingo Bechmann, Viktória Jeney, Ângelo Chora, Nuno R. Palha, Sofia Rebelo, Annie Henri, Yves Beuzard, Miguel P. Soares,"Sickle hemoglobin confers tolerance to Plasmodium infection" (Cell 145(3):398-409, 2011) - DOI 10.1016/j.cell.2011.03.049
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