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A história química de um cachalote

30 Dez 2011 - 18h46 - 2.655 caracteres

No século XIX, os cachalotes eram vistos como animais ferozes e maus. São descritos dessa forma no “Moby Dick”, de Melville, e nas “Vinte mil léguas submarinas”, de Júlio Verne. Talvez por isso ninguém, nessa altura, se importasse com a sua sorte. Sabemos hoje que essa ideia era errada, embora eles continuem a ser para nós animais misteriosos.

 

No Moby Dick a palavra química aparece apenas uma vez. E, ainda assim, no sentido figurado da atracção entre as pessoas. No entanto, este livro tem muita química para além de nos trazer a memória de um mundo que a química ajudou a mudar. De facto, no século XIX, as velas mais finas, os lubrificantes das máquinas mais delicadas, os perfumes mais caros, o vestuário feminino mais elegantes e muitos dos objectos mais requintados, deviam a sua existência à caça às baleias. Hoje em dia todos esses produtos, ou se tornaram desnecessários, ou estão fora de moda, ou têm substitutos que foram desenvolvidos pelos químicos.

 

Na cabeça do cachalote existe um óleo denominado espermacete que se associava, na altura, ao seu sistema reprodutor. Sabemos hoje que este óleo é uma parte do sistema de flutuação que lhes permite mergulhar até profundidades enormes. Esse óleo tinha, no século XIX, aplicação na produção de velas finas e lubrificantes delicados, assim como todas as gorduras das baleias eram aproveitadas para os mais variados fins. Hoje em dia as velas são apenas uma recordação, ou um objecto de decoração. E todos os usos dos óleos das baleias foram substituídos por produtos naturais ou sintéticos com origem vegetal ou derivados do petróleo.

 

Nos estômagos das baleias podia encontrar-se uma massa cinzenta e mal cheirosa que, após contacto com o ar e a luz, libertava um odor agradável. Este sólido era chamado âmbar cinzento e foi muito importante para a indústria dos perfumes como fixante dos aromas. Hoje em dia existem substitutos sintéticos, isto é, que são produzidos em laboratório ou de forma industrial.

 

Os ossos e os dentes das várias espécies de baleias eram usados em muitos produtos de uso comum ou de decoração. Em particular, os dentes do cachalote eram usados para fazer peças de xadrez, teclas de piano e bolas de bilhar. Essas aplicações hoje em dia foram completamente substituídas pelo plástico. De forma idêntica, os “ossos da boca” de algumas baleias, muito duros e flexíveis, eram usados para fazer corpetes, uma peça de vestuário feminino hoje completamente fora de moda.

 

Vemos assim, com a história química de um cachalote, como a química nos permite um mundo melhor ao mesmo tempo que salvamos as baleias.

 

Sérgio Rodrigues, Professor Auxiliar do Departamento de Química da FCTUC


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Sérgio Rodrigues

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