Como conhecer o céu de outono
O céu nocturno é fascinante. A temperatura amena das noites outonais permite-nos admirá-lo de forma confortável. Saber localizar as estrelas e constelações pode servir-nos como fonte de fascínio ou recurso de orientação e para melhor referenciar as posições dos planetas e de outros objectos interessantes. O procedimento é simples e só requer alguma regularidade.
Siga as técnicas para identificar as estrelas e constelações de Outono
Devido à rotação da Terra, todos os dias desfilam sobre as nossas cabeças heróis, mitologias e aventuras que os nossos antepassados imaginaram. Consideram-se estrelas de Outono as que são visíveis (das nossas latitudes) aproximadamente entre as 22h00 e as 24h00, numa qualquer noite a meio desta estação.
Com a passagem das horas, todo o panorama celeste se desloca para oeste, de tal forma que cerca das 4h00 estaremos já a ver as estrelas que no próximo Inverno serão observáveis logo após o jantar.
Olhando na direcção norte, acima da estrela Polar encontraremos a Cassiopeia, desenhando um "M" delineado por estrelas bem destacadas. Os bicos do "M" apontam para a constelação de Andrómeda. Contrariamente ao que se imagina, a Polar não é uma das estrelas mais brilhantes do céu (ocupa a 49.ª posição, por ordem decrescente de brilho aparente). Por baixo da estrela Polar, e se o horizonte estiver desimpedido, veremos a Ursa Maior a baixa altura, com a sua cauda voltada para a esquerda.
Acima do horizonte oeste, podemos ver a bela constelação do Cisne desenhando uma cruz, onde se evidencia a sua estrela mais brilhante, Deneb. Um pouco mais abaixo veremos a estrela Altair (da constelação da Águia) e à sua direita Vega, muito brilhante, destacando-se na constelação da Lira. O Triângulo de Verão, marcado por estas três estrelas, vê-se agora tombado a poente. Se o local onde nos encontramos for verdadeiramente escuro, a Via Láctea mostra-se imponente.
Bem acima do horizonte sul destaca-se o quadrado do Pégaso, sem nenhuma estrela particularmente brilhante, mas fácil de reconhecer nesta região do céu, pobre em estrelas notáveis. A estrela no vértice superior esquerdo deste quadrado (Sirrah), pertence à vizinha constelação de Andrómeda, na qual as três estrelas principais, caracteristicamente alinhadas, não enganam o observador. Entre a estrela Mirach, de Andrómeda, e a Cassiopeia encontra-se a galáxia de Andrómeda, o mais distante objecto celeste visível a olho nu, como uma ténue mancha leitosa e oval (se a poluição luminosa for baixa). Situa-se a mais de 2,5 milhões de anos-luz e é soberba através de um binóculo. A este de Andrómeda está a constelação de Perseu, seguida pelo Cocheiro. O Touro já se eleva a nascente e cerca de uma hora depois veremos surgir o grande caçador (Orionte), anunciando as estrelas de Inverno.
Abaixo do Quadrado do Pégaso encontra-se Fomalhaut, a estrela mais brilhante do Peixe Austral. A este deste quadrado, duas estrelas relativamente brilhantes indicam a localização do Carneiro.
Muitas outras estrelas e constelações podem ser localizadas com facilidade, utilizando técnicas simples e eficazes (ver caixa "Para saber mais").
Os planetas mudam de posição relativamente às constelações, mas as suas posições mensais podem ser obtidas em http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595 , accionando o link "Localização dos planetas".
Texto e mapas de Guilherme de Almeida
Para saber mais
Guilherme de Almeida — O Céu nas Pontas dos Dedos, Plátano Editora, Lisboa, 2013.
http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595
Guilherme de Almeida — Roteiro do Céu, Plátano Editora, Lisboa, 5.ª Edição, 2010.
LEGENDAS DAS FIGURAS
Figura 1 - Aspecto simplificado do céu, olhando acima do horizonte norte cerca das 23:00, numa noite típica de Outono.
Figura 2 - Panorâmica do céu de Outono, com o observador voltado para sul (a base do mapa marca o horizonte e o sul está a meio do comprimento do mapa). O Escorpião, à direita, mergulha no horizonte logo no crepúsculo. As constelações à esquerda só aparecem a horas mais tardias. A linha vermelha marca as estrelas que passam sucessivamente pelo zénite (ponto imaginário do céu na vertical acima do observador).
(Informação aos Editores: Este artigo é válido para o Outono de qualquer ano)
© 2013 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
Guilherme de Almeida
Guilherme de Almeida (n. 1950) é licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária. Proferiu mais de 80 de palestras sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, publicou mais de 90 artigos e é formador certificado nestas matérias. Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação. É autor de oito livros sobre Astronomia, observações astronómicas e Física. Algumas das suas obras também estão publicadas em inglês, castelhano e catalão. Mais informação em http://www.wook.pt/authors/detail/id/5235
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