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Poupar 40 por cento em energia e conseguir ver as estrelas

08 Nov 2013 - 12h38 - 4.761 caracteres

Poucas pessoas ouviram falar na poluição luminosa, mas esta apresenta inconvenientes de vária ordem que atingem o cidadão no bolso, no descanso e na qualidade de vida. Poderiam poupar-se 40 por cento dos custos energéticos se a luz fosse doseada e orientada para onde e quando interessa.

O que é a poluição luminosa?
A poluição luminosa (PL) é o efeito produzido pela luz exterior mal direccionada, que é dirigida para cima, ou para os lados, em vez de iluminar o solo e as áreas pretendidas. Na maioria dos casos resulta de candeeiros e projectores de concepção inadequada ou instalação incorrecta, que emitem luz para além do seu alvo, sem qualquer efeito útil. Muitas vezes até emitem luz para as nuvens. E essa luz também se paga. Muitas pessoas, para conseguirem dormir, têm de fechar os estores porque o candeeiro da rua faz entrar luz pela janela, mesmo quando esta fica acima desse candeeiro!
No caso da iluminação pública sabemos que são os cidadãos que pagam a conta da energia desperdiçada. Há quem diga que a poluição luminosa é inevitável, constituindo um indicador de progresso e modernidade, mas isso não é verdade. Ela é o resultado do mau planeamento dos sistemas de iluminação, não da necessidade de iluminação, em si, cuja utilidade não discutimos. As consequências desse imenso desperdício têm ainda outros custos indirectos: parte dessa energia provém de centrais térmicas, elas mesmas poluidoras do ambiente, que assim têm de consumir mais recursos, lançando mais dióxido de carbono na atmosfera, o que agrava o aquecimento global.

O que fazer para melhorar a situação?
Não sugerimos apagar as luzes nem andar às escuras. É possível optimizar a iluminação pública mantendo, apesar disso, bons níveis de iluminação no solo: onde interessa. Existem luminárias concebidas de raiz para minimizar a poluição luminosa.
Para mudar o estado actual da iluminação caótica é preciso que os cidadãos protestem e que os municípios escolham equipamentos de iluminação adequados. Uma lâmpada mais eficiente e de luz bem direccionada (veja-se a figura) consegue produzir o mesmo nível de iluminação, consumindo muito menos. Economizar 40 por cento não é irrelevante: são muitos milhões de euros anuais.
A figura mostra a emissão de luz de diversos tipos de candeeiros (luminárias), onde o modelo A é o pior e C é o melhor. O feixe luminoso óptimo é o da ÁREA 1. O feixe indicado na ÁREA 2 é incómodo e sem iluminação relevante; A iluminação nas ÁREAS 3 e 4 é inadmissível. Na verdade, os feixes luminosos nas áreas 2, 3 e 4 deveriam ser redireccionados, por reflexão (e refracção), para dentro da área óptima 1.

Como avaliar a poluição luminosa num local
Um bom indicador da poluição luminosa num local é a abundância de estrelas visíveis a olho nu. Quanto mais estrelas forem vistas, menor será a poluição luminosa. Muitos jovens já não reconhecem as estrelas e constelações. Se nada for feito, a tendência, será para piorar as coisas. É preciso sensibilizar a opinião pública para os efeitos prejudiciais da poluição luminosa na beleza do céu nocturno, que é um património da Humanidade e uma das maiores maravilhas que podemos contemplar.

Texto, esquema e fotografia de Guilherme de Almeida

 

Para saber mais
Guilherme de Almeida - "O Céu nas Pontas dos Dedos", 1.ª Edição, Plátano Editora, 2013.
(pack livro+planisfério celeste multifuncional) http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595

Guilherme de Almeida e Pedro Ré — "Observar o Céu Profundo" (Cap. 3), Plátano Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2003. http://www.platanoeditora.pt/index.php?q=C/BOOKSSHOW/18

Veja o artigo mais desenvolvido e um artigo complementar em:
http://www.astronomia2009.org/documentos/Poluicao_Luminosa_GAlmeida.PDF
www.darkskyalqueva.com/uploads/O%20c%C3%A9u%20nocturno%20e%20a%20PL_ALQUEVA.pdf

 


© 2013 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida (n. 1950) é licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária. Proferiu mais de 80 de palestras sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, publicou mais de 90 artigos e é formador certificado nestas matérias. Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação. É autor de oito livros sobre Astronomia, observações astronómicas e Física. Algumas das suas obras também estão publicadas em inglês, castelhano e catalão. Mais informação em  http://www.wook.pt/authors/detail/id/5235 


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