O futuro do Minho depende da matéria orgânica do seu solo
A preocupação com as alterações climáticas, a diminuição da biodiversidade, a saúde e a qualidade de vida, obrigam a um novo olhar sobre o papel da estrumação no Minho. Isto porque encontrar na estrumação do passado, uma prática cultural do futuro, contribuirá para a sobrevivência da natureza e dos ecossistemas.
A estrumação no Minho terá sido um esforço superior às três grandes pirâmides do Egito ou à grande muralha da China. O abandono desta prática poderá causar, um dia, o desaparecimento de água, da biodiversidade, e do tão característico verde do Minho no verão, o que põe em risco o turismo, por muito belo que seja o património construído neste território. Isto porque o solo do Minho é pobre do ponto de vista mineral, por excesso de areia e falta de argila, mas é fértil, porque é rico em matéria orgânica, fruto de séculos de estrumação. Sem estrumação, ou prados temporários e permanentes, a matéria orgânica do solo do Minho diminuirá, e em consequência a sustentabilidade do seu território.
Entre as funções da matéria orgânica do solo inclui-se a produtividade do solo para a agricultura e silvicultura, o controlo da erosão, a filtragem de partículas, transformação de resíduos, armazenamento e reciclagem de água e de nutrientes, sumidouro de carbono e fonte de biodiversidade.
Com a diminuição da matéria orgânica do solo, a água não se conservará, enquanto a biodiversidade do solo e da sua superfície ficará em risco. Devido à forte precipitação de inverno, o risco de erosão do solo aumenta, enquanto no verão, por falta de água, diminui a vida biológica e a reciclagem dos nutrientes, para além de aumentar a incidência do fogo, que converte os matos, que protegiam o solo, em dióxido de carbono e outros gases que contribuem para as alterações climáticas.
O desaparecimento do uso dos matos para a produção de estrume, e o aparecimento de incêndios de grandes proporções, associa-se, também, à invasão do território por espécies invasoras como as Acácias. Estas espécies foram introduzidas em Portugal para evitar a erosão de solos arenosos das zonas costeiras, sendo posteriormente divulgadas como arbustos ornamentais e para produção de madeira. No entanto, as Acácias são espécies altamente competitivas, capazes de invadir o território das espécies nativas e de ameaçar a conservação dos habitats naturais. E atualmente proliferam no Minho, com consequências ainda imprevisíveis. Por esta razão, são necessárias novas formas de valorização para estes arbustos, tendo em conta a sua abundância em Portugal. A compostagem, para utilização do composto rico em húmus como corretivo orgânico do solo, poderá ser uma das soluções.
Todas as razões referidas anteriormente justificam que a sociedade se preocupe com a proteção do solo, até porque assim, também protege o ar, a água, a biodiversidade, as funções dos ecossistemas, a sustentabilidade da agricultura, o turismo e muitas outras atividades económicas e, naturalmente, a própria sociedade. Os custos com a saúde poderão crescer com a poluição da cadeia alimentar, a qualidade de vida e o turismo podem diminuir com o desaparecimento da paisagem, a quantidade e a qualidade da água disponível para as populações pode ficar comprometida, e cada vez mais espécies serão extintas se não protegermos o solo. É uma obrigação da atual sociedade para com as gerações futuras, que tem que obter uma atenção imediata, saltando para o topo da agenda política internacional no mais curto prazo.
Luís Miguel Brito
Escola Superior Agrária de Ponte de Lima / Instituto Politécnico de Viana do Castelo
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Luís Miguel Brito
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