Por que motivo certas pessoas com fibromialgia entram em depressão?
Por: Cristina Pinto / Universidade de Coimbra
Por que motivo certas pessoas com fibromialgia, uma doença crónica altamente debilitante, entram em depressão? Esta foi uma das questões de partida para o estudo intitulado “Trajetórias para a depressão na fibromialgia: o papel do pensamento repetitivo negativo e do afeto negativo”, realizado por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), através da Clínica Reumatológica de Coimbra e do Serviço de Psicologia Médica.
O estudo, distinguido recentemente em Madrid, no 24º Congresso Europeu de Psiquiatria, envolveu uma amostra de 103 mulheres diagnosticadas com fibromialgia, com idades compreendidas entre 18 e 65 anos de idade, recrutadas em várias unidades de saúde.
Os resultados obtidos na investigação mostram que «o impacto dos sintomas de fibromialgia no desenvolvimento de sintomatologia depressiva opera através do pensamento repetitivo negativo e do afeto negativo. Quer isto dizer que pessoas que apresentam mais sintomas de fibromialgia tendem a envolver-se em estratégias mal adaptativas como o pensamento repetitivo negativo (isto é preocupações e ruminações) numa tentativa de lidar com estes sintomas», explica a primeira autora do trabalho, Ana Margarida Pinto.
«Estes resultados são importantes na medida em que revelam o papel fundamental que certas variáveis psicológicas desempenham no contexto da dor crónica e sublinham a importância de incluir tais variáveis nas intervenções psicossociais na fibromialgia, uma doença crónica caracterizada por dor generalizada e difusa, normalmente acompanhada por outros sintomas como perturbação de sono, rigidez muscular, hipersensibilidade a estímulos ambientais, ansiedade, depressão, défices cognitivos e fadiga extrema», assinala a investigadora da Universidade de Coimbra.
Este trabalho faz parte de um estudo mais amplo, coordenado pelos Professores António Macedo e José António Pereira da Silva, que tem como objetivo principal investigar se a fibromialgia se diferencia de outras doenças crónicas, como a artrite reumatoide, bem como de controlos sem dor crónica no que diz respeito a determinados traços de personalidade (como o perfecionismo) e processos psicológicos (como os estilos cognitivos, ou seja, formas habituais de pensar, de interpretar as situações, etc.).
Presente em 2-5% da população, a fibromialgia é uma doença debilitante que interfere muito na qualidade de vida das pessoas, tendo um grande impacto não só ao nível pessoal mas também ao nível familiar e social. O desconhecimento acerca da sua origem, assim como a existência de diferentes configurações de sintomas que flutuam ao longo do tempo, tornam o seu tratamento difícil.
Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra)
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